Resumo:
Árvores são organismos sésseis que consomem recursos e interagem primariamente com as árvores vizinhas. Considerando que muitos fatores afetam o crescimento das árvores, compreender melhor as causas de variações no crescimento ao longo de sua trajetória de vida é informação muito valiosa em ecologia, e pode ter muitas aplicações. A dendrocronologia fornece a abordagem adequada para a reconstrução da variação de longo prazo no crescimento de espécies arbóreas. Nesta tese abordo a reconstrução do regime de distúrbios de dossel, por meio da análise dos padrões de crescimento abrupto verificados na variação de largura dos anéis de crescimento de espécies de árvores da Floresta Ombrófila Mista (FOM) no nordeste do Rio Grande do Sul. Usando dados morfológicos de inventários de dois projetos de parcelas permanentes observamos que os históricos de distúrbios descritos estão fortemente relacionados com a estrutura atual da floresta. Considerando que a FOM foi amplamente submetida a extração de árvores de interesse madeireiro, e que as cronologias de distúrbios revelaram eventos sincrônicos de mudanças abruptas de crescimento das árvores, é provável que os distúrbios passados que identificamos se devam ao corte seletivo de árvores do dossel. Considerando que os distúrbios do dossel afetam o crescimento das árvores, e que as interações entre elas envolvendo acesso aos recursos se dão antes em nível de vizinhança, desenvolvo no segundo capítulo uma análise de como as relações entre diferenças funcionais entre árvores focais e sua vizinhança imediata, afetam o crescimento das árvores focais, e, como os distúrbios influenciam nessas relações. Para realizar essa análise eu emprego dados de atributos funcionais das espécies, a idade das árvores focais, obtida pela datação dos anéis de crescimento, e, também aplico os dados dos históricos de distúrbios construídos no primeiro capítulo. Foram encontrados efeitos positivos da dissimilaridade funcional de A. angustifolia e árvores vizinhas sobre o crescimento (efeito de complementariedade de vizinhança). Além disso, tais efeitos positivos foram dependentes do histórico de maior tempode estabilidade pós-distúrbios. Também observamos que para árvores da família Lauraceae ocorrentes em florestas mais intensamente submetidas a distúrbios de dossel, o efeito de complementariedade não é relevante, e a performance de crescimento das árvores depende das respostas das espécies ao filtro ambiental.