Resumo:
Este estudo objetivou conhecer as concepções e práticas de saúde a partir das referências do público adolescente, no contexto escolar, dialogando com a complexa rede de relações que estes estabelecem com o mundo e em particular com suas expressões e identidades musicais. Por meio da Musicoterapia Comunitária (MT) procurou-se investigar suas potencialidades no desenvolvimento de processos de educação em saúde, com adolescentes dentro do espaço escolar. Foi realizado um estudo qualitativo embasado pelos pressupostos da pesquisa-ação e desenvolvido por meio de uma metodologia participativa. Nos encontros foram utilizados os Quatro Métodos de Musicoterapia, conforme apontado por Bruscia (2000): improvisação, composição, recriação e audição. A pesquisa de campo ocorreu entre os meses de setembro a dezembro de 2014, em uma escola municipal de ensino fundamental localizada em São Leopoldo, Rio Grande do Sul. Participaram do estudo 12 adolescentes, com idade de 13 a 18 anos. Todos os encontros foram filmados com a finalidade de registrar os conteúdos desenvolvidos pela pesquisadora e os questionamentos dos participantes. O processo analítico percorreu duplo movimento, incorporando as descobertas, o conhecimento e as ações produzidas pelos adolescentes pesquisadores e a análise qualitativa (MINAYO, 2006). Os resultados do estudo sugerem que os adolescentes atribuem diferentes e contraditórios significados à saúde, transitando entre as representações e práticas do padrão hegemônico presentes no modelo biomédico de saúde e projeções autorais do grupo, associadas ao conceito ampliado de saúde. Essas últimas trazem valores como o auto-cuidado, passando pelo cuidado dos próximos, sobretudo, de amigos e família, estendendo-se ao cuidado com a escola e com o território. Nessa direção, a escola assume papel privilegiado no desenvolvimento humano, tem papel relevante na promoção da vida e no cuidado com a saúde de seus educandos. Entretanto, precisa incorporar esse olhar nas suas práticas pedagógicas, na gestão do espaço-ambiente que é compartilhado por todos. Para isso, pode se valer da comunidade escolar, da participação dos próprios alunos e da contribuição dos demais equipamentos de seu território. Dentre eles, a rede de saúde tem responsabilidade clínica e sanitária de desenvolver ações de promoção e prevenção dentro e fora da escola. É uma questão de diálogo intersetorial que precisa interligar necessidades de saúde com resolutividade. Mais que conhecer o significado e as práticas de saúde dos adolescentes, há necessidade de reconhecê-los como produtores de conhecimento e de práticas de saúde, aproximando os espaços do ambiente-escola como o do terrirório-bairro. Do contrário, manter-se-á a cultura da fragmentação, impedindo que o cuidado esteja acessível no tempo oportuno e de forma integral, o que para os adolescentes pode significar, inclusive, danos ou perdas irreversíveis.