Resumo:
Áreas úmidas têm elevada importância devido aos seus serviços ecossistêmicos. Os solos secos das áreas úmidas intermitentes acumulam uma variedade de estruturas dormentes que adotam estratégias de sobrevivência frente a estímulos ambientais adversos. Essas estratégias dão origem a um banco de propágulos dormentes, que no início do ciclo hidrológico se torna fonte de alimento, para colonizadores tardios dando origem a importantes relações tróficas, como por exemplo, a predação. Os efeitos da predação são diversos e podem diminuir ou elevar a diversidade da comunidade zooplanctônica local. Assim, o objetivo geral deste trabalho foi avaliar a influência da presença de peixes anuais predadores na estrutura e emergência do banco de propágulos dormentes de invertebrados aquáticos em áreas úmidas intermitentes. Para tanto, foram selecionadas 8 áreas úmidas do entorno do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, sendo que em quatro delas os peixes anuais estão presentes. O sedimento seco de cada área úmida foi peneirado e homogeneizado para a realização de dois procedimentos distintos. No primeiro deles, uma subamostra de cada área úmida foi flotada e, no segundo, uma subamostra foi incubada e parâmetros de fotoperíodo, temperatura e oxigênio controlados durante 36 dias. Os resultados rejeitam as duas hipóteses deste trabalho, ou seja, a densidade de estágios dormentes foi similar entre as áreas (U = 10, df=1, p = 0,564) e não houve variação no tamanho corporal dos invertebrados aquáticos nas áreas sob pressão de predação de peixes anuais (x2 =0,555, df=3). A riqueza (F1,6 = 0,040, p=0,849), abundância (F1,6 = 0,692, p=0,437), e composição (r2 = 0,069, p = 0,827) de espécies foi similar entre as áreas úmidas. No entanto, houve diferença no incremento temporal da abundância entre táxons, bem como determinadas espécies estão mais relacionadas com certas áreas. Os resultados devem ser interpretados tendo-se em consideração que a eclosão de ovos efipiais em experimentos controlados elimina outros fatores relevantes e presentes em ambientes naturais, tais como fatores abióticos relacionados com luminosidade, temperatura e salinidade, bem como diversas interações bióticas. Assim, o estudo com bancos de propágulos dormentes oferece informações acerca da comunidade de invertebrados aquáticos, mas ainda carece de esforços que ampliem a compreensão de suas respostas frente aos diferentes estímulos ambientais.