Resumo:
A comunidade de macroinvertebrados aquáticos pode ser estruturada por processos em nível de múltiplas escalas espaciais. A redução ou substituição da floresta ripária por diferentes usos do solo e o impacto nas condições físicas e químicas dos riachos pode afetar negativamente a comunidade de macroinvertebrados causando homogeneização da composição. Por isso, nós avaliamos as seguintes hipóteses. Artigo I) A riqueza de macroinvertebrados e a riqueza de EPT (Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera) diminui com a redução da largura de floresta ripária; a composição de macroinvertebrados e dos grupos tróficos funcionais (GTF) variam com a redução da largura de floresta ripária; e a redução da largura de floresta ripária influencia similarmente a comunidade de macroinvertebrados em diferentes substratos do riacho. Artigo II) O uso do solo (floresta, agricultura, pastagem e urbanização) altera as variáveis físicas e químicas nos riachos; e a diversidade β diminui, ou a composição de macroinvertebrados é mais homogênea, em trechos de riachos impactados pelo uso do solo. Artigo III) A diversidade γ não é distribuída homogeneamente entre escalas, com diferenças entre o padrão observado no inverno e verão; e a diversidade β depende dos tipo de substratos diferentes, mas a maioria da dissimilaridade da composição ocorre em escalas espaciais mais amplas, independente da estação do ano analisada. Visando obter essas respostas, nós selecionamos trechos de três riachos de cabeceira na Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos, sul do Brasil. A composição de macroinvertebrados no substrato folhiço diferiu dos substratos encontrados em corredeira (pedra e seixo), mostrando proporcionalmente menor diversidade dentro da menor escala espacial (α1) e maior diversidade na escala mais ampla (β4). Nós encontramos diferenças na composição (diversidade β) entre a escala de trecho e escala de riacho no inverno e verão. Houve diferença significativa na composição de macroinvertebrados entre as larguras de florestas ripárias. A composição de macroinvertebrados e de GTF diferiu entre substratos, independente da largura de floresta ripária. As variáveis físicas e químicas dos riachos variaram de acordo com a intensidade do uso do solo. Houve homogeneização da comunidade, ou uma redução da diversidade β, com o aumento da velocidade do riacho, nitrogênio amoniacal e fósforo total, e uma maior heterogeneidade da comunidade ocorreu com o aumento do sombreamento e do pH. Nossos resultados revelaram que os riachos no sul do Brasil suportam uma comunidade de macroinvertebrados muito heterogênea e o papel da configuração espacial nesses riachos influencia fortemente a diversidade de macroinvertebrados. Uma largura de floresta ripária maior que 15 m é necessária para manter a composição e as condições tróficas das famílias de macroinvertebrados em estados de conservação mais prístinas. Além disso, os resultados enfatizam a importância de estudos sobre a diversidade β para a avaliação da homogeneização da comunidade de macroinvertebrados em riachos impactados por diferentes usos do solo no sul do Brasil.