Resumo:
Essa tese analisa a experiência de mulheres sobre a transmissão vertical da sífilis, considerando a sua trajetória social e as intersecções com os marcadores sociais da diferença; assim como a assistência prestada na rede de saúde e a estrutura das políticas públicas que atendem a saúde sexual e reprodutiva. É analisado também o papel do Comitê de Transmissão Vertical com dispositivo técnico- científico e o seu potencial como articulador da rede de serviços para a compreensão do determinismo da sífilis nos diversos espaços de saúde. Metodologia: Tratou-se de uma pesquisa qualitativa que analisou narrativas biográficas de sete mulheres que vivenciaram a sífilis durante a gestação e a decorrente transmissão vertical, além do uso da triangulação de métodos para compreender o corpus de materiais em torno do comitê de transmissão vertical, que abrangeu a análise documental, observação das reuniões e a realização de entrevistas com os seus membros através de um estudo de caso. A produção dos dados ocorreu entre maio de 2019 a dezembro de 2020; a análise ocorreu através das transcrições, leitura e organização das entrevistas, das notas de campo e dos documentos, sendo construídos eixos de discussão em dialogo com dimensões teóricas. Resultados e Discussões: Foram analisadas as experiências e trajetórias de vida de mulheres que vivenciaram a sífilis durante a gestação e a transmissão vertical. Analisaram-se os percursos sociais vinculados à sexualidade e à reprodução, considerando os efeitos da violência estrutural que conjuga desigualdades de gênero, classe e raça na vida dessas mulheres, com histórias e subjetivações singulares. Estas desigualdades que afetam as suas vidas nem sempre são consideradas na produção do cuidado à saúde da mulher e da criança, sendo (re)produzidas vulnerabilidades institucionais. Examinou-se no segundo artigo, a constituição do comitê de transmissão vertical da sífilis e o seu auxílio para fortalecimento da rede de assistência na prevenção da transmissão vertical e no desfecho satisfatório para os casos que estão em seguimento. Analisaram-se avanços e fragilidades dessa atuação, considerando desde o modo de organização do Comitê até as formas de atuação. Entende-se que os CTV têm potencialidades de propor um novo processo de trabalho capaz de exercer um papel verdadeiramente educativo e transformador e não tradicionalmente investigativo. Considerações Finais: Diante destes cenários, é imprescindível ampliar o olhar sobre a determinação social do adoecimento por sífilis e a decorrente transmissão vertical, compreendendo e interferindo nas dinâmicas sociais que envolvem a produção do cuidado na assistência à saúde da mulher e da criança e fortalecendo os papéis dos comitês como protagonistas de um reposicionamento político e institucional, capaz de abarcar as situações de vulnerabilidade social que perpassam a vida do trinômio (Mãe-Bebê-Pai/Parceiro).