Abstract:
Durante a migração para áreas de reprodução ou de invernada o Calidris canutus rufa faz paradas de dias ou semanas em stopovers que seleciona ao logo de suas rotas. Entre eles o litoral médio, no extremo sul do Brasil, onde também está localizado o Parque Nacional Lagoa do Peixe. Este local é caracterizado por possuir lagoas litorâneas, áreas úmidas, extensas áreas de dunas, canais de drenagem e amplas praias arenosas, ambiente ideal para aves limícolas. Aqui é apresentado os resultados de dois estudos com esta subespécie. O monitoramento de cinco indivíduos, iniciado em abril de 2019, com a utilização de PinPoint GPS Argos 75, a partir da Lagoa do Peixe, com o objetivo de investigar, rotas migratórias e diferenças nas estratégias de migração. O segundo, através de censos de bandos de Red Knots, entre os anos de 2019 e 2020, com objetivo de analisar o uso do habitat durante os processos migratórios e se variáveis relacionadas ao ambiente justificariam o padrão da presença das aves no habitat. No primeiro trabalho foram encontradas diferenças nas rotas, distâncias percorridas, tempo de deslocamento, velocidade de migração, tempos de paragens e conectividade. As aves migraram pela rota do Brasil Central e Rota Atlântica. Uma delas realizou voo direto de 8.300 km, da Lagoa do Peixe até a Baia de Delaware – USA. Outra parou no Maranhão e uma terceira acessou ambiente desconhecido para a espécie, Baía Santa Rosa – Foz do Rio Amazonas, Brasil. A quarta teve um registro na costa Atlântica de Suriname. A velocidade de migração variou entre 53km/dia a 1230km/dia. Aves com melhor condição corporal percorreram maiores distância em menos tempo, acima de 900 km/dia. Este trabalho evidencia a existência de variação nas estratégias de migração dentro da mesma população e demonstra a importância da conectividade de ambientes fundamentais para a viabilidade da subespécie. No segundo trabalho, foram encontradas diferenças entre o tamanho e distanciamento dos bandos. Na migração norte os bandos são maiores e mantêm maior distância entre sí. Durante a migração norte foi detectada a formação de dois agrupamentos com preferências ambientais distintas. Um grupo na extremidade sul parece ter influência do tamanho da área das lagoas e áreas úmidas e os bandos agrupados na extremidade norte a distância de lagoas, áreas úmidas e drenagens foram importantes para explicar suas presenças. Durante a migração sul foram identificados quatro agrupamentos, no entanto os bandos se distribuíam de forma mais uniforme em toda a área, sendo que as variáveis de maior importância para os agrupamentos dos bandos foram distância das lagoas e áreas urbanas. A distância entre os bandos também desenvolveu um papel complementar. As variáveis 8 distância de lagoas, área de lagoa, distância de drenagens e áreas urbanas, foram as variáveis que parecem melhor responder ao padrão de ordenação das presenças dos bandos no habitat. A distribuição dos bandos está estruturada em áreas que possuem alta similaridade das variáveis estudadas, denotando influência do ambiente nos locais de presença das aves de forma diferente quando está migrando para suas áreas de reprodução ou de invernada. Estudos de uso de habitat são fundamentais para identificar ambientes preferências para o maçarico- de-peito-roxo e que devem ser protegidos.