Abstract:
Um dos grandes desafios na ecologia é tentar entender os padrões da estrutura das comunidades e suas variações, ao longo de gradientes ambientais. Dentre esses gradientes, a complexidade dos habitats está relacionada a várias características ambientais, tais como: complexidade topográfica ou rugosidade do substrato, diversidade de substratos, variedade de refúgios, altura do substrato, porcentagem de cobertura vegetal e composição vegetal, havendo forte influência desses fatores nas comunidades. As áreas úmidas intermitentes apresentam hidroperíodo anual, tendo por característica fauna e flora únicas que contribuem significativamente para a diversidade local. Por sua vez, as áreas úmidas permanentes possuem água o ano inteiro, e a permanência de água por longos períodos possibilita a ocorrência de espécies não efêmeras. A altitude é uma condição que influencia fortemente o clima de uma região e consequentemente a biota, sendo que com o aumento da altitude diminui a temperatura média, ocorrem mudanças no relevo, na topografia e na hidrografia, acarretando mudanças na estrutura de comunidades em geral. A abordagem espacial, por usa vez, infere que a distância geográfica pode influenciar a estrutura das comunidades, de forma que quanto maior a distância entre duas comunidades, menos similares essas comunidades devem ser. O principal objetivo dessa tese é analisar a influência de fatores locais e regionais sobre a riqueza, abundância e composição de espécies de turbelários em ambientes límnicos na região sul do Brasil, ao longo de diversas condições ambientais. As amostragens ocorreram em 40 áreas úmidas naturais, em ambientes de altitude (Campos de Cima da Serra) e ao longo de todo o litoral do Rio Grande do Sul, entre os anos de 2016 e 2017. Um total de 3008 espécimes de turbelários foi coletado, distribuídos em 76 espécies. Em ambientes de altitude, os fatores hidroperíodo, complexidade de habitat, total de sólidos dissolvidos e, para riqueza, também o pH, levando em consideração variações sazonais, foram os fatores que melhor explicaram as variações na riqueza e abundância de turbelários. Houve influência dessas variáveis também na composição das espécies (p < 0,05). A riqueza de espécies de turbelários foi maior em áreas úmidas costeiras do que em áreas úmidas de altitude (p < 0,05). As comunidades de turbelários foram distintas entre as áreas úmidas de altitude e áreas úmidas costeiras (p < 0,05), com táxons exclusivos para ambos grupos de áreas úmidas, onde o TDS se mostrou uma variável importante para composição das espécies. Ao longo de um gradiente latitudinal na Planície Costeira, a riqueza de espécies apresentou correlação com o espaço, onde os maiores valores estimados foram no litoral médio, e relação positiva com a densidade fitoplanctônica e negativa com a salinidade (p < 0,05). Os valores estimados de abundância de espécimes foram mais altos no litoral sul e houve relação positiva da abundância com o aumento da turbidez e com a diminuição do oxigênio dissolvido (p < 0,05). A composição de espécies de turbelários foi fracamente explicada em amostragens ao longo do litoral gaúcho, com relação significativa com a salinidade e turbidez (p < 0,05). Os resultados do presente estudo destacam quão dinâmicas e complexas são as comunidades de turbelários, com a influência direta de fatores locais e regionais sobre a riqueza, abundância e composição de espécies, havendo expressivo aumento do conhecimento sobre os fatores que influenciam as comunidades desses invertebrados em áreas úmidas naturais neotropicais.