Resumen:
No Brasil a demanda energética criada pelo desenvolvimento econômico tem transformado de forma rápida e intensa a paisagem natural, não só com a energia eólica mas também com outros tipos de empreendimentos. Estas mudanças em um ambiente que possui uma mega diversidade devem ser acompanhadas de estudos que descrevam e possam predizer os efeitos destas alterações nos ecossistemas, embasando esforços para a redução dos impactos e conservação das espécies. A relação entre quirópteros e parques eólicos no Brasil é pouco conhecida, sendo que as publicações existentes foram divulgadas nos últimos cinco anos. Neste contexto, a fim de analisar a relação entre as fatalidades de quirópteros no Complexo Eólico Santa Vitória do Palmar e os padrões espaciais e temporais das mesmas, entre julho de 2014 e junho de 2018 foram realizadas, mensalmente, transecções circulares em busca de carcaças no entorno de 129 torres eólicas. Durante as buscas, as fatalidades constatadas foram registradas juntamente com o número da torre, a data e a distância de cada carcaça encontrada até a base da torre. Todas as carcaças encontradas foram identificadas ao menor nível taxonômico possível e posteriormente foram removidas para se evitar as recontagens. As informações sobre as mortes foram analisadas primeiramente em conjuntos anuais, utilizado o teste de Friedman e posteriormente foram separadas por estações do ano para compreender a influência das diferentes classes de uso do solo sobre o padrão espacial observado nas fatalidades. Para investigar a relação dos índices de atividade com o clima foi utilizado o monitoramento acústico da comunidade de morcegos para gerar modelos lineares generalizados (GLM) com distribuição Poisson, utilizando variáveis climáticas como variáveis preditoras. Foi utilizado o Critério de Informação de Akaike de segunda ordem (AICc) e o coeficiente de determinação (R2) para assim ranquear e selecionar os modelos, comparando modelos com todas as combinações possíveis das variáveis preditoras. Ao final de 48 meses foram registradas 266 carcaças de morcegos pertencentes a seis espécies de morcegos insetívoros. Os resultados demonstraram a predominância da espécie Tadarida brasiliensis entre as fatalidades observadas, além do primeiro registro de morte de espécimes do gênero Eptesicus em torres eólicas. Os dados também revelaram que as mortes ocorrem exclusivamente entre os meses de outubro e maio e que as torres eólicas mais próximas do centro urbano concentraram um maior número de mortes. A série temporal de mortes de quirópteros revelou uma maior frequência de mortes no primeiro ano (69% em 2014), seguida de uma redução nos dois anos seguintes e um pequeno aumento no quarto ano de monitoramento. Os modelos curiosamente revelaram uma relação positiva da atividade em relação a velocidade dos ventos. De acordo com os dados obtidos os melhores cenários possíveis para a instalação de novos parques seriam locais com distância superior a 4 Km de centros urbanizados e com predominância de campos. Deste modo, a proposta de mitigação mais importante para as mortes de morcegos na região do estudo é a programação das torres para a parada em noites com certas condições climáticas, que devem estar baseados em critérios mínimos como o intervalo ideal de temperatura para a atividade (15°C – 22°C) onde ocorre 83% da atividade e a distribuição sazonal das mortes, aplicando as medidas principalmente nos meses mais críticos, entre dezembro e março.