Resumen:
A investigação desta tese teve como objetivo compreender se a participação de mulheres na economia solidária pode se constituir em estratégia de enfrentamento às violências de gênero na Região Serrana de Santa Catarina. A pesquisa de campo foi realizada com mulheres participantes de empreendimentos econômicos solidários dos municípios de Lages, Otacílio Costa e Rio Rufino. Com representante do poder judiciário, gestores de secretarias de políticas públicas municipais para mulher, do desenvolvimento econômico e representantes da sociedade civil que compõem a política pública para a mulher e economia solidária do município de Lages. Suas percepções foram recolhidas por meio de rodas de conversa online, entrevistas presenciais e por questionário semi-estruturado. O diálogo referenciou-se em princípios da educação popular na esteira da tradição pedagógica freireana e o movimento da (des)colonialidade do saber, do poder e de gênero a partir de uma perspectiva epistemológica latino-americana. A interação entre a teoria ancorada no materialismo histórico dialético e o fluxo das vozes do campo é contemplada ao longo do texto, tendo por fundamento os saberes, fazeres e a sabedoria das sujeitas participantes da pesquisa. A análise permitiu compreender que: (a) a realidade em que se move o objeto de pesquisa é histórica, tem contexto, encontra-se em movimento e transformação; (b) não obstante, as condicionalidades e sínteses de múltiplas determinações nas quais os fenômenos sociais se exteriorizam, incidem em homens e mulheres com seus pensamentos, sentimentos e ações que constroem a história; embora não escolham as circunstâncias sob as quais ela é feita pois estas foram transmitidas pelas gerações passadas; (c) a estratégia da participação de mulheres na economia solidária como enfrentamento às violências de gênero pode ser válida e potente na medida em que não se reduz esta “outra economia” à dimensão econômica, mas vista como uma totalidade em que se apresentam todas as dimensões da vida material e imaterial; (d) a estratégia de participação na economia solidária, também carrega a possibilidade de resistir e reexistir frente ao modo de produção de sociabilidade hegemonicamente capitalista, pois a problematiza e aponta para outras formas de vida social; (e) os agentes representantes do poder público que atuam na política de economia solidária e nas políticas para as mulheres, apresentam uma visão limitada e suas ações chegam timidamente, por isso teve significado irrelevante para as integrantes dos empreendimentos econômicos solidários; f) das mulheres entrevistadas ouviu-se testemunhos contundentes acerca da potência da economia solidária enquanto estratégica de enfrentamento das violências de gênero, embora sem receitas prontas. Identificou-se pessoas e organizações em luta, percebeu-se uma cultura emergente no combate ao sistema do patriarcado, à cultura machista e à violência de gênero contra a mulher. Consciência individual e social se forja na e por meio da práxis transformadora. Enfrentar a violência implica em uma trama de aspectos de enorme complexidade. (g) estratégias não se impõem, são construídas por mediações pedagogicamente planejadas, unificadas e apenas a participação na economia solidária é insuficiente, pois outras estratégias ampliadas e tecidas em rede são indispensáveis considerando a correlação de forças em luta.