Resumen:
A tese apresenta como objetivo geral investigar a construção de existências comunicacionais de mulheres negras das cidades de Codó e Imperatriz no Instagram e a produção de cidadania comunicativa. Propomos um deslocamento analítico do conceito de cidadania comunicativa a partir das perspectivas de raça e de gênero, opressões interseccionais (GONZALEZ, 1984; 2011; CRENSHAW, 2002; COLLINS, 2019) que atravessam e estruturam a experiência e a vivência das sujeitas da pesquisa. Trata-se de um estudo transmetodológico (MALDONADO, 2013; 2015; 2019) em que contextos micro e macro se entrecruzam e se inter-relacionam para promover tensionamentos nas categorias centrais de investigação. A raça é analisada e interpretada como princípio fundante e estruturante das desigualdades sociais brasileiras (CARNEIRO, 2019; GONZALEZ, 1984; 2011). Dessa forma, quando interseccionada ao gênero e à classe, constrói e perpetua políticas de invisibilização, de desumanização e de desvantagem estrutural para as mulheres negras, o que permite identificar como as políticas de silenciamento invisibilizam a existência discursiva dessas sujeitas (HOOKS, 2019; KILOMBA, 2019). Raça, colonialidade (CÉSAIRE, 1978; MUNANGA, 2003; QUIJANO, 2005), gênero (LUGONES, 2014; CURIEL, 2020), branquitude (BENTO, 2011; SCHUCMAN, 2020) e cidadania comunicativa (BONIN, 2011b;2013; CORTINA, 2005; MONJE, 2011) são algumas das dimensões problematizadas nesta investigação, pois são noções que se interseccionam com as problemáticas dos contextos, as vivências, os saberes e as experiências das sujeitas da pesquisa. Por isso, os arranjos metodológicos (BONIN, 2006) que compõem a investigação estão implicados e dialogam com as mediações contextuais. Na fase sistemática, entrevistas em profundidade realizadas com as mulheres de Codó e Imperatriz abordaram questionamentos diversos sobre as opressões interseccionais que se aproximaram das premissas da epistemologia feminista negra (COLLINS, 2019). Assim, o conceito foi operacionalizado também como dimensão metodológica, ganhando vida diante da realidade concreta (MALDONADO, 2013). No segundo momento da etapa sistemática da investigação, referente à análise e à interpretação das publicações no Instagram, discorremos sobre processos de composição das escritas de si (FOUCAULT, 1992) em formato de escrevivências (EVARISTO, 2017) através da leitura, observação e interpretação das publicações realizadas no Instagram. As publicações na rede social foram sistematizadas no período de janeiro de 2019 a agosto de 2020. Defendemos e argumentamos que a produção de cidadania comunicativa estabelece as perspectivas de raça e de gênero como ponto de partida e de diálogo. Assim, a construção da cidadania atravessa o reconhecimento como sujeito e a construção de existências comunicacionais que abordam novas significações sobre os corpos negros na produção de enquadramentos estético-visuais em desestabilizações às imagens de controle (COLLINS, 2019). Configuram jogos de resistência contra os estereótipos. A produção de cidadania atravessa, ainda, a autodefinição, a autonomia e a experimentação comunicacional de potencialização da fala e de disputas discursivas a partir da posição de sujeito. Defendemos que as mulheres constroem a perspectiva de aprender-sendo: processo de elaboração do saber ético-político, no qual as sujeitas disputam e elaboram narrativas através da construção de existências comunicacionais, nas quais exercem o poder de se autonomearem e escreverem a própria história.