Abstract:
A pesquisa realizada na presente tese visou analisar a inovação social desenvolvida em um coletivo de agricultores que compõe a Cooperativa de Produção Agropecuária Cascata Ltda (COOPTAR), indagando a sua potencialidade transformadora ao longo de uma trajetória de 30 anos. A COOPTAR é um empreendimento da economia solidária de cooperação agrícola, constituído por famílias de agricultores assentadas em um dos blocos de terra originados da antiga Fazenda Annoni, no município de Pontão/RS, que vivenciam um sistema cooperativado de forma integral, no qual a terra e os meios de produção são de propriedade e uso coletivo. Este coletivo foi criado a partir de um intenso e emblemático processo de mobilização social que apresenta um histórico de conflitos e anos de resistências, na busca pelo direito de trabalhar e viver da terra, gerando uma nova forma de vivência econômica, social e cultural, em resposta à profunda escassez de recursos e à necessidade do alcance da viabilidade econômica para subsistências de suas famílias. O referencial teórico-metodológico se valeu do conceito de inovação social transformadora proposto por Avelino et al. (2014) e Haxeltine et al. (2017), que se distingue da perspectiva da inovação social instrumental. No contexto da inovação social na perspectiva transformadora, abordou-se a inovação social em práticas da economia solidária e a inovação social no meio rural, vinculando os três campos, na medida em que a economia solidária apresenta potencialidade transformadora e muitos empreendimentos econômicos solidários se encontram no meio rural. A pesquisa caracterizou-se como qualitativa, com procedimento de estudo de caso, tendo como instrumentos de coleta de dados: revisão bibliográfica e documental, observação e entrevistas semiestruturadas. Os dados foram analisados pela técnica de análise de conteúdo. Os achados evidenciaram que a inovação social na perspectiva transformadora se confirmou nas experiências da COOPTAR, devido à criação de uma nova cultura de atuação coletiva, fundamentada nas práticas democráticas e no desenvolvimento de conhecimentos e habilidades que envolvem novas maneiras de produzir e viver. Entre as principais transformações, destacam-se: a mudança para a produção cooperativada e ecológica, a qualificação das estruturas físicas (de trabalho, das residências e dos espaços de convivência), o desenvolvimento do sentido de coletividade com respeito e valorização da individualidade, a redução significativa de desigualdades de gênero, a melhoria da qualidade de vida, a capacidade de autossustentação das famílias e a adesão da nova geração para a continuidade e aprimoramento permanentemente da cooperativa. O estudo conclui que a inovação social na perspectiva transformadora envolveu o desenvolvimento de uma cultura de inovação, além de que os processos de formação permanente (no âmbito do MST) e a prática coletiva e autogestionária da economia solidaria foram facilitadores a geração desta cultura.