Abstract:
Esta Tese busca investigar de que modos o tempo-atenção do estudo vem se deslocando para o tempo-interesse do estudante na constituição da aula e quais seus efeitos de subjetivação em época de Práticas Pedagógicas Inovadoras. Para tal, realizou um estudo arquegenealógico da aula desde a tradição greco-romana até a atualidade, no recorte específico da atenção, tomando como empiria 21 obras clássicas do pensamento educacional (A República; Cartas, Da educação das crianças; Instituição Oratória; O Pedagogo; Discurso aos jovens; De Magistro; Confissões; Regras Beneditinas; Didascálicon; Sobre o modo de estudar; Ratio Studiorum; Didática Magna; Emílio; Sobre a Pedagogia; Pedagogia Geral; Experiência e Educação; Tecnologia do Ensino; Pedagogia do Oprimido; Para onde vai a Educação?) e 3 obras da atualidade (Coleção Educação fora da caixa), utilizando dois operadores metodológicos: como se dá a apresentação do mundo e como se dá a condução das condutas. Tais operadores atravessam as dimensões analíticas que emergiram da própria empiria: filosofia e morte; escrita; leitura; silêncio e voz; mestre; tempo; tecnologias da aula, possibilitando destacar as regularidades enunciativas, os deslocamentos e as rupturas de como o tempo-atenção do estudo tem sido operado na aula ao longo da história da educação ocidental e como vem se deslocando para o tempo-interesse do estudante na atualidade, em que a atenção é tomada como déficit e como valor de mercado. Alguns conceitos foram fundamentais para o estudo realizado: o conceito de tempo, baseado na formulação bergsoniana, especificamente a duração e a suspensão; o conceito de atenção, com base nos estudos de Crary, Caliman e Kastrup; o conceito de aula, tomando 6 elementos que a constituem (professor, aluno, matéria-estudo, coletivo, tempo-atenção, lugar), com base nos estudos de Masschelein, Simons, Larrosa e Dussel, a partir de três tradições: a greco-romana; a pastoral-cristã; a da modernidade sólida e das práticas pedagógicas inovadoras, que rompem com as tradições. Esses conceitos agregam-se a dois, que são arquegenealogia, também utilizado como operador metodológico, e subjetivação, alicerçados nos trabalhos de Foucault. As análises empreendidas levaram à defesa da seguinte tese: há um deslocamento do tempo-atenção do estudo ao tempo-interesse do estudante na aula em época de práticas pedagógicas inovadoras, cujos efeitos de subjetivação concorrem para a dispersão, a aceleração, a fragmentação, a pouca reflexão sobre a vida e sobre a morte, a pouca escuta e conversação no deslocamento para a conectividade de informações, em que a formação moral das crianças e jovens cede espaço para o desenvolvimento de competências e habilidades técnicas e rapidamente aplicáveis, em que empreendedorismo, o empresariamento de si, as tecnologias da informação e a inovação tomam magnitude. No mergulho arquegenealógico empreendido, esta Tese trouxe à superfície um contingente de práticas de apresentação de mundo e de condução de condutas no tempo-atenção da aula, evidenciando que se pode conjecturar outras aulas possíveis, numa perspectiva formativa e de conversação com a tradição, de compromisso e de responsabilidade para com as novas gerações, retomando a ideia arendtiana, de dar-lhes a chance de renovação de mundo neste tempo que nos cabe pensar e viver.