Resumo:
Partindo-se da premissa de que o ensino da escrita é um processo que deve ser assistido em todas as etapas de escolaridade, esta pesquisa investiga de que modo o Projeto Didático de Gênero (PDG), como opção metodológica, pode contribuir com as práticas de ensino de produção de texto nas aulas de Língua Portuguesa. Tendo como ponto de partida uma discussão sobre o trabalho com produção textual escrita na etapa final da Educação Básica (BUNZEN, 2006; CORTI; MENDONÇA; SOUZA, 2012; GERALDI, 1991; PEREIRA, 2001), este estudo se ancora aos aportes teórico-metodológicos sobre linguagem e desenvolvimento humano do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD) (BRONCKART, 1999; 2006) e sobre o ensino mediado pelos gêneros de texto (DOLZ; SCHNEUWLY, 2004; DECÂNDIO; DOLZ; GAGNON, 2010). Alinha-se também aos princípios traçados por Guimarães e Kersch (2012; 2014; 2015), que assumem uma concepção interacionista da linguagem ao desenvolverem o PDG como proposta metodológica para o ensino de Língua Portuguesa. Adotando-se a pesquisa-ação como metodologia de pesquisa (FRANCO, 2005; PIMENTA, 2005; TRIPP, 2005), os dados foram gerados a partir do desenvolvimento de um PDG em turma de terceiro ano do Ensino Médio noturno de uma escola pública da região metropolitana de Porto Alegre/RS. À luz das noções de textualidade, dos mecanismos de textualização (BRONCKART, 1999; MARCUSCHI, 2008; ELIAS; KOCH, 2018) e das competências de escrita avaliadas na etapa de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) (BRASIL, 2019), buscou-se analisar produções textuais de alunos comparando as versões produzidas (versão inicial, versão final e reescrita) a fim de mensurar o desenvolvimento de escrita no trabalho com produção textual ao longo do processo de desenvolvimento do PDG proposto para esta pesquisa. Os resultados sugerem que os critérios de textualidade, os mecanismos de textualização e os critérios previstos nas competências de escrita avaliadas na etapa de redação do Enem foram acionados/desenvolvidos nos textos produzidos pelos estudantes durante o processo de desenvolvimento do PDG, e que as oficinas de ensino, pensadas a partir das dificuldades evidenciadas na versão diagnóstica do texto, contribuíram para um desenvolvimento progressivo na versão reescrita em relação às dificuldades de escrita apresentadas na primeira produção, evidenciando a pertinência do trabalho com PDG no ensino de escrita em turma de Ensino Médio noturno.