Resumen:
A perspectiva das Capacidades Dinâmicas é uma lente teórica de destaque no âmbito da gestão estratégica, tendo em vista que o seu enfoque está em conduzir as empresas para um desempenho superior. Neste cenário de discussões, observam-se diversas perspectivas de conceitos e formas de análise, o que acabam refletindo na dificuldade de consenso a respeito deste tema. Os estudos, até o presente momento, não abordaram este tema de forma longitudinal e com métricas objetivas, sendo encontradas na literatura, predominantemente, análises de curto prazo, com a utilização de questionários, métricas subjetivas (percepção dos gestores) e mensurando as capacidades de áreas específicas das empresas. Uma abordagem longitudinal se faz necessária, assim como uma avaliação das múltiplas dimensões do desempenho que abrangem a empresa, uma vez que permitiria uma visão mais completa sobre o desenvolvimento, o acúmulo e os efeitos das Capacidades Dinâmicas ao longo da trajetória das organizações e, consequentemente, no seu desempenho. Portanto, o objetivo do presente estudo foi investigar o efeito da presença e articulação das Capacidades Dinâmicas, em múltiplas dimensões de desempenho, por meio de uma análise longitudinal. Para possibilitar maior aprofundamento na pesquisa, construiu-se uma nova métrica objetiva de mensuração das Capacidades Dinâmicas, nos pilares de Sensing, Seizing e Reconfiguring, por meio de uma análise textual no nível da empresa, utilizando um desenho de pesquisa de painel longitudinal. As métricas de desempenho contemplaram quatro dimensões distintas: desempenho de rentabilidade; desempenho de mercado; desempenho de crescimento e desempenho de gerenciamento. A amostra utilizou noventa empresas brasileiras de capital aberto, listadas na Bovespa, entre o período de 2009 a 2019, totalizando 990 observações. Para avaliar se os efeitos das Capacidades Dinâmicas no desempenho são diferentes de acordo com o dinamismo ambiental, a amostra foi segmentada pelo nível de intensidade tecnológica. Os resultados deste estudo foram distintos nos efeitos das Capacidades Dinâmicas em relação às métricas de desempenho. No pilar de Reconfiguring, verificou-se efeitos positivos em determinadas dimensões de desempenho (Retorno sobre os Ativos e Receitas) para todos os grupos de empresas. Já em outras dimensões, bem como nos pilares de Sensing e Seizing e na interação entre os três pilares, os resultados divergiram, o que pode sugerir que as Capacidades Dinâmicas nem sempre conduzem para um melhor desempenho. O presente estudo avança metodologicamente, com a utilização de uma abordagem diferenciada para as pesquisas no âmbito da gestão estratégica, por meio da inovação na forma de mensuração das Capacidades Dinâmicas, considerando uma análise textual aos dados objetivos das empresas. Esses resultados e a metodologia aplicada contribuem para aprofundar o debate acerca do papel das Capacidades Dinâmicas e dos seus pilares na trajetória organizacional e nos diferentes enfoques que constituem o desempenho.