Resumen:
Os estratos do Grupo Itararé, produzidos pela glaciação permocarbonífera do Gondwana, na Bacia do Paraná, registram um ambiente dominantemente marinho glácio-influenciado em Santa Catarina, apresentando contextos prodeltaico e distal à geleiras aterradas no mar. São turbiditos conglomeráticos e arenosos, pelitos depositados lentamente abaixo do nível base de ondas de tempestade, com aporte de rain-out e estratos caóticos, gerados por fluxos de detritos, escorregamentos e deslizamentos. Os estudos regionais de seções próximas à Alfredo Wagner, Vidal Ramos, Aurora, Rio do Sul, Trombudo, Presidente Nereu, Lontras, e de detalhe, em Dr. Pedrinho, permitiram o reconhecimento de cinco sequências deposicionais, separadas por discordâncias de extensão regional e correlacionáveis por mais de 300km, até o norte do Paraná. Cada sequência inicia com a entrada abrupta de arenitos e conglomerados sobre sedimentitos lamosos, marcando um rápido deslocamento das fácies grossas para o interior da bacia, devido a rebaixamentos relativos do nível do mar. As seqüencias 1 a 4 equivalem a depósitos do Grupo Itararé, atingindo uma espessura de 450 m. Mostram uma influência glacial notável, estabelecida quando o paleocontinente Gondwana situava-se próximo ao pólo, durante o final do Carbonífero e início do Permiano. Estas sequências glácioinfluenciadas, de 1 até 4, apresentam uma mudança no padrão climático ao longo da deposição. As sequências 1 e 2 registram condições mais frias, ao passo que as sequências 3 e 4 apresentam condições mais amenas, temperadas, marcadas pela retração das geleiras e concomitante desenvolvimento de sistemas fluviais e da vegetação, em resposta à deriva do paleocontinente para longe do pólo. O trato de mar baixo das sequências 1 a 4 é caracterizado por turbiditos espessos, gerados por fluxos saídos da base de geleiras em retração e por correntes hiperpicnais, disparadas por cheias fluviais. Muito localmente ocorrem tilitos, que registram momentos de avanços significativos dos glaciares sobre a bacia, causando rebaixamentos glácioeustáticos maiores. Pelitos prodeltaicos e depositados distalmente a geleiras aterradas no mar intercalam-se a turbiditos delgados e a pacotes caóticos, constituindo depósitos comuns no trato de sistemas transgressivo das sequências 1 a 4. Progradações rápidas, do trato de sistemas de mar alto, propiciaram a deposição de pacotes pelítico-arenosos instáveis, remobilizados como escorregamentos que evoluíram a fluxos de detritos, formando estratos caóticos espessos. O padrão de paleocorrentes indica uma importante mudança no padrão de aporte da bacia. As sequências 1 a 3 mostram um aporte para o quadrante norte, ocorrendo uma mudança a partir da sequência 4, ainda no “tempo Itararé”, quando a bacia recebeu um crescente aporte para sul e sudoeste, precedendo a inversão tectônica maior documentada pela Fm. Rio Bonito. A sequência 5 é composta por sedimentitos pósglaciais da Formação Rio Bonito, depositados em contexto deltaico, fluvial e marinho raso, dominado por ondas e marés.