Resumen:
A presente dissertação se propõe a investigar as experiências migratórias de mulheres negras haitianas no Rio Grande do Sul, buscando entender como essas experiências são marcadas pelas dinâmicas interseccionadas de raça e gênero. Questiona-se também qual é o acesso dessas mulheres às políticas públicas e ao mercado de trabalho, que possam garantir seus direitos básicos. Abordarei as trajetórias migratórias de duas haitianas, atravessadas por dinâmicas de gênero, raça e classe, na perspectiva de entender como essas mulheres vivenciam as relações de gênero e as relações familiares na experiência migratória e como constituem redes de apoio no território brasileiro. Também discuto problemáticas de acesso às políticas públicas enfrentadas por haitianas e haitianos, que se agudizaram no cenário de pandemia de COVID19 durante o ano de 2020. O referencial teórico deste trabalho envolve discussões sobre migrações haitianas na região, principalmente através de teses e dissertações produzidas nos últimos 5 anos, assim como abordagens da interseccionalidade de raça e gênero para pensar as
experiências das minhas interlocutoras em campo. Notou-se que a dimensão racial, de gênero e de classe se apresentaram como significantes para compreender as experiências migratórias, o recomeço num novo país e junto com ele a força para enfrentar as dificuldades desde o não entendimento do idioma local, vivenciar outra cultura, enfrentar as diversas formas de racismo e preconceito por ser negra, imigrante e mulher. Diante do contexto exposto no decorrer da pesquisa, percebemos que alguns haitianos escolhem a migração internacional, como uma estratégia econômica, já que no Haiti existem profundas desigualdades e barreiras no acesso à direitos sociais. No Brasil, uma importante barreira enfrentada é o racismo, e ainda, no contexto do estado do Rio Grande do Sul, o imaginário racial que hierarquiza a branquitude como símbolo de “desenvolvimento”. A partir dos encontros e entrevistas realizadas, percebemos o quanto as mulheres negras haitianas reconstroem sua vida em um país desconhecido na busca por uma oportunidade de emprego, e a necessidade de manter os compromissos firmados com os familiares que lá ficaram.