Resumen:
A escrita desta dissertação foi movida pelo questionamento de como gênero é construído
socialmente para mulheres negras e como foi vivido por estas mulheres na História. Buscamos construir respostas a partir da análise dos processos-crime que envolveram escravizadas na comarca de Rio Pardo, Rio Grande do Sul, durante o século XIX, através do estabelecimento de relação entre gênero, raça e condição jurídica na experiência de mulheres escravizadas. No levantamento das fontes e no processo de estruturação do trabalho a experiência de Maria Rita, uma preta mina-nagô que viveu a maternidade do lugar de sujeito mulher negra sob o status jurídico da escravização, se tornou condutora de nossa abordagem teórico-metodológica e histórica. A sua experiência nos apresentou as intersecções do lugar de mulher que ocupava naquela sociedade escravista, por vezes Maria Rita foi mediadora entre dois mundos: o escravizado e aquele onde as imposições da escravização não eram reconhecidas devido à sua origem africana. Assim, a interseccionalidade foi elemento chave ao longo do estudo e se apresentou na análise em diferentes perspectivas. Inicialmente a utilizamos como ferramenta
metodológica para pensarmos mulheres negras nas pesquisas historiográficas. Neste sentido, os cruzamentos entre gênero, raça e condição jurídica nos informaram a mulher negra como categoria analítica no campo dos estudos de gênero sobre a escravização. Contudo, com o foco de análise nas mulheres, percebemos a interseccionalidade como experiência vivida na História, conformada pela estrutura de dominação escravista específica para a exploração de mulheres negras como trabalhadoras escravizadas, constituída pelo gênero racializado como pilar interseccional do sistema. E pelo movimento das próprias mulheres no sentido de preservação, recriação e continuidade de humanidade.