Resumen:
O objetivo desta tese é o de compreender a racionalidade exclusivamente
humana como um fenômeno natural, resultado de um longo processo evolutivo. A
racionalidade aqui é entendida como a capacidade humana de dar razões às suas
ações, crenças, desejos e objetivos. Ela só é possível porque os humanos possuem
uma linguagem proposicional que os permite se distanciar da situação imediata, o que
proporciona maior flexibilidade nas respostas e no comportamento. Para compreender
a racionalidade naturalizada, é necessário analisá-la sob duas perspectivas: sob a
perspectiva do indivíduo e sob a perspectiva da espécie. Do ponto de vista da espécie,
o processo evolutivo levou – gradualmente – ao desenvolvimento de diferentes
capacidades que culminaram com o desenvolvimento da racionalidade, quais sejam:
intencionalidade individual, conjunta e coletiva, capacidade para uma leitura de
mentes, desenvolvimento de uma linguagem proposicional, formação de uma
perspectiva objetiva, construção da cultura e da moralidade. A cooperação e a
interação foram imprescindíveis neste processo. Do ponto de vista individual, a
racionalidade e demais habilidades relacionadas a ela se desenvolvem unicamente
se houver maturação e interação e todas elas continuam a se desenvolver ao longo
da vida. A racionalidade é formada por meio das experiências de vida, sofrendo
influência da cultura, do meio ambiente e das interações que se realiza com outros
seres; o corpo e os afetos são parte essencial deste processo. Por ser um processo
contínuo, a racionalidade pode ser aperfeiçoada e melhorada, pela busca por
melhores e mais bem fundamentadas razões, pela busca constante da verdade, pela
reflexão, pela autorreflexão, pela atenção que se dá às experiências e pela abertura
às razões alheias.