Resumo:
Esta tese tem como objetivo oferecer uma interpretação original dos ensaios
XV, XVI, XVII e XVIII, escritos e publicados pelo filósofo escocês David Hume (1711–
1776) na obra intitulada Ensaios morais, políticos e literários (1742). Para tanto,
abordam-se não apenas os ensaios, mas outros textos do mesmo autor, que contêm
os elementos da sua filosofia e os esclarecem, além da consulta aos textos dos
estudiosos desses ensaios e da filosofia de Hume em geral. O trabalho é dividido em
três momentos. O primeiro aborda o projeto filosófico de Hume de uma maneira geral,
explorando os aspectos mais importantes da sua filosofia, que dizem respeito às
teorias do conhecimento, paixões e moral; o segundo realiza a interpretação
detalhada dos ensaios sobre os filósofos, o foco principal desta pesquisa, e,
finalmente, o terceiro consiste no debate com alguns intérpretes, onde procuro
defender e demonstrar a minha interpretação. Hume escreveu esses ensaios na
primeira pessoa e cada um deles está associado a uma escola filosófica Antiga. Essas
escolas adotam princípios morais distintos e até antagônicos. Tendo escrito esses
ensaios na primeira pessoa, Hume parece defender o que diz. Isso leva a um resultado
intrigante, porque aparentemente não há como conciliar os princípios pertinentes a
cada escola. É necessário esclarecer a diferença entre a proposta filosófica humiana
e as propostas morais das seitas. Nesse sentido, não vemos esses ensaios como sem
importância em todo o trabalho do filósofo escocês. Pelo contrário, são ensaios que
ajudam, uma vez adequadamente interpretados, a esclarecer os imbróglios
interpretativos dessa filosofia. A tradição não se entende com relação ao significado
desses ensaios, muito menos consegue definir com clareza as pretensões de Hume.
A dificuldade de os entender adequadamente é proporcional à dificuldade de
interpretar a filosofia de Hume na totalidade. Três tendências de interpretação
prevalecem sobre a filosofia de Hume: uma com viés cético, outra naturalista e uma
terceira que procura conciliar às duas primeiras. Essas tendências podem ser
identificadas em certa medida nos ensaios objetos do nosso estudo, cujos resultados
procuram contribuir com a cultura filosófica universal, a partir dos temas que suscita,
e com a compreensão acerca de uma das mais importantes filosofias da história da
humanidade.