Abstract:
Esta pesquisa traz, a partir de disciplinas desenvolvidas com propósito específico no decorrer do Curso de Letras, a proposta de uma avaliação, por parte dos alunos em formação inicial, sobre seu processo de letramento literário, assim como uma reflexão sobre sua futura prática docente na mediação de leitores do texto literário. Parte da proposição de que, na perspectiva dos letramentos, a escola deve estar aberta para atender a um novo sujeito, situado socio-historicamente na e pela linguagem e, por isso, considera-se a necessidade de uma renovação das práticas de leitura e de práticas sociais, construídas na interação dos alunos entre si e entre cada um com o mundo, respeitando sua diversidade de linguagens. Considera também que a linguagem literária unifica diferentes códigos, línguas, vozes e linguagens (LAJOLO, 2018) e que o ensino da literatura propõe um debate sobre a diversidade social e cultural, ao confrontar corpus de textos constituídos por literaturas universal, social e cultural, proporcionando um testemunho da evolução dos posicionamentos filosóficos em relação à questão do sujeito (BRONCKART, 2017a). Desse modo, o problema que norteia este estudo passa pelas seguintes indagações: como o seu próprio processo de letramento literário é compreendido pelos alunos em formação inicial? Sua concepção de letramento literário foi ressignificada ao longo dos eventos de letramento proporcionados por disciplinas do curso de Letras? Como avalia o seu papel enquanto formador de leitores no ensino básico? De que recursos se valeu o professor do curso de Letras para validar sua proposta didática? Portanto objetiva analisar o percurso do letramento literário de alunos do curso de Letras, em formação inicial, discutindo formas de contribuição para esse desenvolvimento, desde os primeiros anos da formação. Pretende, ainda, proporcionar reflexões sobre sua futura mediação na formação de leitores da educação básica, a partir da vivência de práticas de leitura literária promovidas na formação. Acredita que, na perspectiva de um letramento literário, que transponha o espaço escolar físico e temporal, o professor deve apresentar meios que deem ao aluno-leitor autonomia para continuar a desenvolver sua competência de leitor crítico, ao longo de suas interações sociais. O presente estudo caracteriza-se como pesquisa-ação (TRIPP, 2005) de natureza qualitativa e apoia-se nos pressupostos da teoria social dos letramentos (STREET, 2008, 2013, 2014; BARTON; HAMILTON, 1998; KLEIMAN, 2005, 2014; KLEIMAN; ASSIS, 2016), nas contribuições sobre
letramento literário de Cosson (2014) e Zapponi (2008) e nas orientações da BNCC (BRASIL, 2017) e da BNC-Formação (BRASIL, 2019) sobre as práticas de leitura literária no ensino básico e a organização dos conteúdos curriculares a serem trabalhados nos cursos de licenciatura, respectivamente. Consideramos para a análise dos dados a situação da ação de linguagem dos textos produzidos pelo aluno do curso – o memorial de leitura, o diário de bordo e a avaliação diagnóstica –, com base no modelo de análise de textos proposto pelo Interacionismo Sociodiscursivo. Foram analisados, na infraestrutura textual, os tipos de discurso que constituem o texto produzido pelos alunos, e os mecanismos enunciativos que incorporam o estudo das vozes e das modalizações (BRONCKART, 1999, 2004; 2006; 2017). Também foram analisados os julgamentos e as avaliações emanadas dessas vozes presentes, bem como as marcas de atorialidade, além de seus posicionamentos ativos responsivos, diante do texto lido, com base no conceito de resposta ativa responsiva de Bakhtin/Volochínov ([1929], 1981, 2003, 2016). As análises constataram que os alunos conseguiram fazer uma reflexão sobre seu processo de letramento literário e sobre sua atuação como futuros formadores de leitores literários. Este estudo constatou que não se pode ser mediador de leitores, se não se é leitor. Da mesma forma, não se ensina apenas a partir de teorias e conhecimentos aprendidos. É nas atividades de leitura proporcionadas pelas disciplinas de língua e literatura, através de oficinas e laboratórios de leitura, por exemplo, que os futuros professores podem vivenciar seu processo de compreensão leitora e de escrita responsiva; e preparar-se para uma postura de engajamento que lhe será exigida numa situação de ensino, seja nos projetos de intervenção, durante as práticas ou estágios curriculares de formação, seja na sua docência profissional.