Resumen:
A partir do embasamento teórico sobre inovação em contexto de ensino de Língua Portuguesa (SIGNORINI, 2007), ensino da escrita (KOCH; ELIAS, 2010, DOLZ; GAGNON; DECÂNDIO, 2010), desenvolvimento profissional (BRONCKART, 2013) e estágios de processos de mediação formativa (BRONCKART, 2006), o objetivo desta dissertação é analisar se o processo de formação continuada, denominado “Ensino de Língua Materna e Projetos Didáticos de Gênero nos Anos Finais do Ensino Fundamental”, promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da Unisinos, em parceria com a Secretaria Municipal de Ensino de Novo Hamburgo/RS, configurou-se como um vetor de e para a inovação no ensino da escrita na educação básica. Para tanto, a partir de uma abordagem qualitativa de pesquisa (DÖRNYEI, 2007), com base especificamente no quadro do Interacionismo Sociodiscursivo (BRONCKART, 1999, 2006, 2013), realizou-se a análise de três momentos específicos da formação: (i) a realização de uma atividade que buscou evidenciar as representações prévias das professoras colaboradoras desta pesquisa sobre aulas voltadas ao ensino da escrita; (ii) a vivência experiencial delas em uma atividade de produção inicial proposta pelo trabalho com projetos didáticos de gênero (PDG), sob o princípio de homologia de processos (SCHÖN, 2000); e (iii) o retorno à práxis docente, a partir do planejamento de um PDG (GUIMARÃES; KERSCH, 2014) e, mais especificamente, de oficinas voltadas ao trabalho com produção escrita. A partir de categorias linguístico-discursivas relacionadas à arquitetura textual (BRONCKART, 1999), analisou-se: (i) o conteúdo temático das verbalizações das professoras colaboradoras e a progressão textual desse conteúdo a partir de usos de tipos de discurso específicos e de mecanismos de textualização de conexão e de coesão nominal, procurando identificar pistas sobre as representações prévias e possíveis momentos de tomada de consciência sobre o ensino da escrita na perspectiva de PDG; (ii) o conteúdo temático das oficinas planejadas por elas em relação ao(s) foco(s) do ensino da escrita. Os resultados desta pesquisa sugerem que: a) o planejamento de PDGs pode contribuir para práticas de ensino da escrita situadas e consistentes com uma proposta dialógica de produção de textos; b) a formação continuada proposta se configurou como um vetor de e para a inovação em relação a um ensino da escrita com foco na interação porque as professoras colaboradoras evidenciaram, nas oficinas do PDG planejado, que assumiram uma postura diferente da que aparentemente tinham ao ingressarem no processo de formação; c) o foco em uma concepção específica de ensino da escrita evidenciou que outros focos e operações tendem a ser enfraquecidos, sendo necessário retomá-los em processos de mediação formativa futuros. Esta pesquisa contribui, portanto, para investigações, no campo da Linguística Aplicada, que busquem promover e analisar o desenvolvimento profissional de professores em processos de formação continuada.