Abstract:
Esta pesquisa objetiva entender de que modo os processos midiáticos contemporâneos se integram à experiência de peregrinação, tendo por lugar de observação o Caminho de Santiago. A peregrinação midiatizada se dá a ver em múltiplas frentes: nos materiais expressivos que circulam nas mídias em que se cria uma peregrinação à distância atravessada por lógicas externas ao ritual; nas práticas midiáticas incorporadas ao cotidiano do peregrino que instituem modos pelos quais o fazer dessa experiência é afetado e ressignificado; e nos múltiplos caminhos, inclusive simbólicos, que se constituem e se entrecruzam em prolongamentos do Caminho em si. A investigação lançou mão de conceitos como experiência, narrativa, circulação, lógicas de mídia e lógicas de midiatização e de técnicas de análise diversas articuladas a um olhar de inspiração etnográfica. Desse modo, por meio de entrevistas, análise de aplicativos e de interações em grupos de Facebook dedicados ao Caminho de Santiago, formulários e de uma pesquisa participante em uma das rotas de peregrinação (o Caminho Francês), procurou-se, por estas múltiplas entradas analíticas, perscrutar que tipo(s) de experiência(s) despontam na midiatização contemporânea. Os caminhos da midiatização são marcados por tensões e ambivalências pelas quais um ritual cuja vivência que historicamente se constituiu como externo às estruturas sociais é cada vez mais invadido por injunções midiáticas na sua experiência. Não se nega a existência de processos midiáticos harmônicos, mas foi a dicotomia entre ações que levam o indivíduo a experimentar, de um lado, uma peregrinação idealizada e, de outro, práticas que o afastariam dela, é que se manifestou como força dúbia característica da midiatização quando esta se insere em uma experiência em que a busca pelo retorno ao tradicional se faz por gramáticas do tempo presente. Evidenciam-se nesta tese constantes negociações que envolvem a Igreja Católica, o campo político, o campo econômico e, especialmente, os próprios atores sociais que reinventam seu caminhar e, por conseguinte, a própria noção do Caminho e do(s) sentido(s) de uma peregrinação.