Resumen:
Investiguei neste trabalho as noções de justiça, racionalidades e estratégias presentes entre os camponeses emigrantes da Alemanha instalados na Vila de São João de Santa Cruz entre os anos 1879-1905. Através da documentação criminal cruzada com fontes como os livros notariais e paroquiais, procurei mapear as situações de criminalidade, onde se destacaram, sobretudo, os crimes por disputas de terras e crimes que ofendiam a honra através dos insultos verbais. Para tanto, segui duas famílias como fios condutores para encontrar respostas específicas às perguntas gerais sobre o universo camponês. Ao analisar os conflitos em torno da propriedade e do mercado de terras, observei as escolhas e estratégias das famílias para evitar a fragmentação da propriedade, suas redes de reciprocidade, valores e acordos presentes nas transações comerciais e a organização interna do grupo. A partir da outra família pude observar as noções de honra e justiça dos camponeses frente a um caso de infanticídio; o peso das redes de relações, as estratégias adotadas para ocultar a desonra e, por fim, os usos da justiça que estes sujeitos fizeram através dos crimes de injúria e calúnia. Através desta investigação verifiquei a existência de acordos morais e privados no mercado de terras, as racionalidades, valores e costumes que estavam presentes dentro dessa sociedade de colonização alemã estabelecida na região central do Estado do Rio Grande do Sul.