Abstract:
Em setembro de 2018, Adélio Bispo de Oliveira deu uma facada no então candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro e logo depois confessou o que fez. As narrativas de que o crime não foi um ato isolado surgiram prontamente e em diversas mídias, seja pelas tradicionais notícias falsas, seja por memes, comentários, hashtags ou mensagens sugestivas, como encontro nos tweets. Percorri, a partir dos termos “facada bolsonaro”, em dias específicos, as menções que, se não traziam explicitamente fake news, ajudavam a promover ou reforçar a desordem informativa. Foi possível perceber não apenas que as narrativas falsas sobre a facada continuam, mesmo com as informações oficiais e com o arquivamento do processo, como principalmente de que forma é que elas são reforçadas. Com esta experimentação errante, tive contato com um ambiente de pós-verdade e pude trabalhar com conceitos que são utilizados nas pesquisas sobre notícias falsas, como câmaras de eco, discursos de ódio, filtro-bolha e polarização – além de propor possibilidades teórico-metodológicas que buscam superar a ideia de divisão. Como intercessores teóricos, uso principalmente Walter Benjamin, Vilém Flusser, e Gilles Deleuze & Félix Guattari. O trabalho, nesta experimentação, foi estruturado como uma constelação que se propõe um mapa, uma forma de entendimento sobre o fenômeno pesquisado – notícias falsas e pós-verdade: estes termos foram tratados e tensionados a partir do que pedia o objeto de estudo; tal abordagem permitiu, ainda, questionamentos epistemológicos e propostas sobre método de pesquisa em comunicação, marcados pela observação distante.