Resumo:
Definitivamente a energia eólica está inserida à matriz energética mundial e existem políticas públicas para a continuidade do seu desenvolvimento. O Brasil também aderiu ao uso desta fonte e o Rio Grande do Sul (RS) ocupa o quarto lugar em potência instalada, explorando, aproximadamente 1,7% do seu potencial eólico, em 18 complexos em operação comercial. Uma questão central observada no discurso em apoio à energia eólica é a busca pelo desenvolvimento sustentável, uma vez que a fonte oferece benefícios ambientais, como: redução da necessidade de fontes não renováveis, como carvão e petróleo, com consequente redução da emissão dos gases de efeito estufa, redução do uso da água e redução da destruição de habitat. Entretanto, a instalação deste tipo de energia representa também a geração de impactos negativos, especialmente sobre a comunidade de aves pela colisão com as turbinas eólicas. A avaliação deste impacto é comumente feita através dos registros de fatalidade e muitos modelos foram desenvolvidos para predizer este risco, na tentativa de equilibrar os riscos e os benefícios em prol da minimização dos efeitos ambientais adversos. Assim, os objetivos do presente estudo foram: (i) avaliar a riqueza, composição de espécies e mortandade de aves nos parques eólicos em operação no RS, comparando três regiões de implantação; (ii) verificar como as características técnicas dos parques eólicos, fatores ambientais e a paisagem afetam a taxa de mortalidade; (iii) avaliar três fases de um parque eólico: pré-implantação, implantação e operação quanto a composição de espécies de aves, guildas de ambiente e mortandade e (iv) adaptar e aplicar um índice de risco de colisão. Desta forma, foram obtidos dados secundários de avifauna oriundos de relatórios de monitoramento de fauna submetidos à agência ambiental do RS de 11 parques eólicos em operação localizados em três regiões: Coxilha de Santana, Litoral Norte e Litoral Sul. Foram registradas 315 espécies de aves em todos os parques eólicos, sendo a maioria residente, insetívora e de área aberta. A composição de espécies é diferente nas três regiões, no entanto para os óbitos não existe diferença entre as regiões. As características técnicas dos parques e os fatores ambientais avaliados não possuem relação com as espécies que morreram, no entanto quando a estrutura da paisagem é acrescentada este padrão se modifica. A taxa média de mortalidade observada foi 0,494 ind./turbina/ano e a taxa de mortalidade estimada foi 1,154, sendo semelhante com resultados encontrados em outros parques eólicos nos Estados Unidos e Espanha. A avaliação da composição de espécies nas três fases de um parque eólico mostrou que a fase de pré-implantação é diferente dos quatro anos de operação, indicando um possível impacto da operação do parque sobre a avifauna. Os resultados obtidos demonstram que se deve ter cuidado ao analisar os efeitos dos parques eólicos sobre as aves, especialmente na ausência de estudos de longo prazo para confirmar as tendências de impacto. O índice de risco proposto considerou apenas características morfológicas e etológicas das espécies. Contudo, as colisões que foram registradas e avaliadas neste estudo estão acontecendo, na sua maioria, com espécies que apresentam de médio a baixo risco de colisão e o que estaria explicando as colisões não seriam as espécies em si, mas a estrutura da paisagem e algumas características dos parques eólicos. Assim, é fundamental o desenvolvimento de estudos para aprimorar ou criar um novo índice, testando a inclusão de diferentes fatores como a estrutura da paisagem, frequência de ocorrência e ocupação do espaço aéreo, a fim de conduzir a resultados mais próximos da realidade, buscando a melhor conservação da avifauna nas instalações eólicas.