Resumo:
Esta tese busca discutir a constituição musical, midiática e identitária do rock gaúcho produzido em Porto Alegre na década de 1980, pensando suas configurações enquanto cena e gênero musical. Primeiramente, em caráter expositivo, faço a contextualização da década, abordando principalmente questões de indústria fonográfica e sistema midiático. Nessa etapa, traço uma linha do tempo onde enfatizo alguns acontecimentos como, por exemplo, o surgimento do BRock, a efervescência cultural do bairro Bom Fim, em Porto Alegre, festivais, emissoras de rádio, coletâneas e gravadoras locais. Em seguida, apresento a fundamentação teórica que oferece sustento à minha tese. Meu argumento é de que gênero musical (BORN, 2016; LENA, 2012; BRACKETT, 2003; FRITH, 1996) não diz respeito somente a aspectos sonoros – mas também sociais, econômicos, afetivos etc –, e pode ser baseado em uma cena musical (STRAW, 2017; JANOTTI JR & PEREIRA DE SÁ, 2013; AMARAL et al, 2017), ou seja, levo também em consideração a importância da cidade neste contexto. Para resolver o problema de pesquisa, recorro a procedimentos metodológicos como método biográfico (ROSENTHAL, 2017), história oral (ROSA, 2007; PORTELLI, 1997) e pesquisa documental (GIL, 2008). O conceito de memória (NORA, 1993, POLLAK, 1992), nesta fase, também atua como ângulo teórico-metodológico. Na sequência, exponho a seleção de entrevistados, com uma pequena biografia, apresentando quais foram os movimentos tomados a partir da compreensão dos procedimentos metodológicos. Por fim, busco apresentar minha proposta de gênero baseado em cena, discorrendo sobre os pontos essenciais para categorizar o rock gaúcho: 1) questões temporais e espaciais, 2) estética, atitude e sonoridades e 3) aspectos midiáticos. Neste momento, além da categorização musical do rock gaúcho, sugiro uma diferenciação entre rock gaúcho, BRock e rock feito no Rio Grande do Sul. A categorização proposta é relacionada a um momento específico, de uma geração de bandas que surgiu em determinado período e que apresenta certas particularidades. Trato, portanto, de identificações musicais não ligadas somente a sonoridades, mas também a normas operadas em uma cena musical, justamente para tentar apreender como comunidades podem criar gêneros na música popular.