Resumen:
O ensino de adolescentes que estão em cumprimento de medida socioeducativa de internação se insere no panorama complexo dos processos de escolarização nos anos finais do ensino fundamental. Esses adolescentes apresentam defasagem idade-série de, pelo menos, dois anos em média e se originam de contextos de vulnerabilidade social, baixa escolaridade e consequente dificuldade nas práticas sociais de leitura e escrita, expostos ao risco de exploração sexual, criminalidade, assim como de todos os modos de vida marginal. Em contato com essa realidade, o objetivo deste estudo é analisar os fenômenos representativos expressos por adolescentes que se encontram em cumprimento de medida socioeducativa de internação e estão cursando os anos finais do ensino fundamental. A pesquisa foi desenvolvida com base na metodologia qualitativa de cunho etnográfico (SILVERMAN, 2009; FLICK, 2009). O procedimento de pesquisa foi a entrevista em grupo, a que chamamos de roda de conversa, desenvolvida com base nas manifestações verbais dos educandos, a partir de tópicos guia (GASKEL, 2003) e com a técnica de associação de ideias, que é fundamentada em pressupostos epistemológicos construcionistas (SPINK, 2013). Os dados foram analisados com base na Teoria das Representações Sociais (MOSCOVICI, 1978; JODELET, 1993; 2017; 2018), aspectos relativos à linguagem são abordados com base nos conceitos de discurso, dialogismo e doutrina da refração, fundamentados em Bakhtin/Volochinov (2006) e Faraco (2009), correlacionados aos Estudos Culturais (Hall, 1997), perspectivas educacionais de adolescentes em conflito com a lei (CRAIDY, 2012; 2015), de in/exclusão (SANTOS, 1999; LOPES, 2007) e diferença (SILVA, 2000). As falas dos adolescentes demonstram um saber prático do cotidiano em que surgem a rejeição à escola, às ideias de que a vida social não vale a pena e o percurso pelo ato infracional, por uma integração com a criminalidade, meio em que esse jovem se reconhece “incluído”. Reconhecem que a frequência à escola no período de internação foi boa, porque obtiveram progressos em seus percursos escolares. Acerca das aulas de língua materna, com base nas suas vivências escolares, os adolescentes representam as aulas como algo que não é significativo a eles.