Resumo:
Esta pesquisa, com inspiração arquegenealógica a partir dos Estudos Foucaultianos em Educação, examina a emergência do aluno-trabalhador nas políticas de educação profissional e da educação de jovens e adultos no Brasil, a partir de um recorte específico, que são os alunos do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA) na atualidade. O grande operador teórico-metodológico que amarra toda a problematização ora proposta é o conceito de discurso em Foucault, entendido como uma prática que produz os objetos dos quais fala. A pesquisa foi realizada a partir de análise documental, examinando legislações brasileiras do século XVI ao século XXI, totalizando 106 documentos, bem como por meio da realização de cinco grupos focais com alunos de um curso de Administração do PROEJA em um Instituto Federal da serra gaúcha entre 2017 e 2018. As análises foram subdivididas em períodos relacionados a regularidades e deslocamentos de cada época, os quais nomeei como: A educação e os gentios (1548-1798); O Império e os ensaios para o ensino de adultos (1808-1888); A República e os aprendizes (1889-1931); A alfabetização e a profissionalização (1934-1985); O empresariamento de si (1988–2018). Nesses períodos, deslocamo-nos de uma sociedade de soberania, com punições e práticas de exclusão, buscando tirar os sujeitos de um suposto estado de selvageria; para uma sociedade disciplinar, com práticas de inclusão e correção; para uma sociedade da regulamentação, em que a filiação entre educação e trabalho se constituirá como forte dispositivo de segurança a partir da governamentalização do Estado, que se dava a partir do século XVIII; para, no contemporâneo, uma sociedade do desempenho. Não se trata de substituições, mas de acoplamentos que mantêm certas regularidades, como: o lugar de falta (etária, moral, intelectual) do aluno-trabalhador; o enunciado da aptidão; o enunciado do risco do ócio e da vadiagem (em algum momento, considerados crimes); as políticas de educação profissional majoritariamente voltadas para crianças e adolescentes; a separação por gênero e classe social; a exclusão da população indígena e afro-brasileira das políticas públicas, em um país que se deslocou de uma sociedade agrária para uma sociedade industrial e hoje é atravessado pela perspectiva desse contemporâneo capitalismo, que operará com os enunciados de flexibilização, competências e multifuncionalidade. Falamos no presente, pois, de um empresariamento de si muito mais vinculado a uma precarização das relações de trabalho do que ao empreendedorismo propagado como a solução para a crise econômica e o problema da empregabilidade.