Resumen:
O debate sobre o tema da reconstituição da confiança chega aos dias de hoje pautado pelos escândalos envolvendo empresas brasileiras (familiares ou não) e suas respectivas governanças corporativas. Entretanto, situações como graves dificuldades financeiras (recuperação judicial, falência, etc.), falta de alinhamento entre acionistas e gestores, disputas ou rupturas societárias e descontinuidade drástica na sucessão (falecimentos, despreparo de sucessores, etc.), também podem impactar fortemente a confiança organizacional. Além disso, com base em uma revisão de literatura realizada sobre confiança em empresas familiares, nos principais Journals de Administração, constatou-se que, em geral, o tema da confiança em empresas familiares é tratado como adjacente, sendo que temáticas relacionadas à quebra e à reconstituição da confiança são pouco exploradas e menos ainda no contexto das empresas familiares. Considerando, portanto, a importância desse tema, no contexto atual, na presente Tese procurase responder a seguinte questão: Como ocorre o processo de reconstituição da confiança na governança corporativa em empresas familiares? Para tanto utilizou-se uma abordagem qualitativa exploratória, de natureza indutiva, tendo como método de pesquisa a realização de estudo de caso único, com ênfase na “análise de processo”.O caso estudado refere-se a uma empresa familiar brasileira, de muito sucesso no seu segmento de atuação (indústria), com 50 anos de fundação, e atualmente sob o comando da segunda Geração. Os fundadores sempre foram reconhecidos pelos públicos de interesse pela integridade com que faziam negócios e também pela dedicação ao trabalho e competência com que administravam Empresa. A Empresa teve a confiança dos seus stakeholders abalada, em decorrência do falecimento inesperado do casal de fundadores, da pouca evolução interna do processo de governança corporativa e pelo despreparo dos herdeiros (um casal de filhos) para assumirem de imediato a gestão da Empresa. A pesquisa oferece uma contribuição teórico empírica sobre como ocorre o processo de reconstituição da confiança organizacional de maneira dinâmica e a partir da análise do campo (empresa familiar estudada). Assim, examinou-se o processo em profundidade, identificando as fases desenvolvidas, os eventos críticos que marcaram cada uma das fases, a sequência de ações realizadas e as categorias que emergiram (1ª, 2ª e 3ª Ordens), ao longo do tempo (desde a quebra da confiança até a realização da pesquisa). Utilizou-se, principalmente, a Teoria Institucional para tratar do tema da governança corporativa e a Teoria dos Stakeholders para capturar a perspectiva das partes interessadas em relação ao processo. Apresenta-se, ao final, um modelo teórico empírico sobre o processo de reconstituição da confiança na governança corporativa na empresa estudada.