Resumo:
Esta pesquisa retoma questões sobre o cruzamento de gênero, raça e classe no contexto de um empreendimento de reciclagem de resíduos sólidos, no município de Porto Alegre/RS, Brasil. Através de estudo de caso, buscou-se aprofundar a compreensão da rotina e experiências de vida de cinco mulheres trabalhadoras da Unidade de Triagem Frederico Mentz, utilizando a interseccionalidade como ferramenta analítica. O conceito de interseccionalidade foi usado formalmente, pela primeira vez, no ano de 1989, pela jurista feminista estadunidense Kimberlé Crenshaw e se expandiu sobretudo através de intelectuais e militantes do feminismo negro. Além de uma simples definição, a interseccionalidade se transforma em um instrumento de luta política. De acordo com Patrícia Hill Collins, ela é ao mesmo tempo um projeto de conhecimento e uma arma política. A produção dos dados foi possível através de observação participante da rotina de trabalho, das reuniões organizativas e atividades de integração. A utilização de entrevista semiestruturada e conversas informais possibilitou o acesso às experiências pessoais, assim como às relacionadas ao trabalho, levando em conta as especificidades do trabalho cooperativado. A inserção no trabalho cooperativo ou associativo se apresenta como alternativa para geração de renda e potência na luta pela superação das desigualdades sociais, abrindo as portas para mulheres pobres e negras, que não encontram oportunidades em outros espaços de trabalho. As cooperativas de reciclagem compõem o segmento da Economia Solidária, assumindo a responsabilidade de proporcionar a seus associados um espaço político, de inclusão social e que pretende atuar de forma solidária e autogestionária.