Resumo:
Este trabalho, que se insere na interface entre Semântica de Frames (FILLMORE, 1982,1985) e Lexicografia Eletrônica, objetiva investigar as conceptualizações do atleta com deficiência no contexto paraolímpico com base no aporte teórico da Semântica de Frames, destacando a noção de frame como modelo teórico pertinente para compreender essas diferentes conceptualizações. Além dessa investigação, pretende-se identificar em que medida frames de pessoa com deficiência, externos ao contexto paraolímpico, se manifestam nessa concepção a ser investigada. Considerando que este trabalho está vinculado ao projeto de desenvolvimento do Dicionário Paraolímpico, esta pesquisa pretende, também, fornecer o background necessário para o estabelecimento de estratégias do projeto. Desse modo, a metodologia é dividida em duas etapas: a primeira, que corresponde à etapa de investigação da rede de conceitos que descrevem as conceptualizações acerca do atleta paraolímpico; e a segunda, que corresponde ao estudo do léxico e à confirmação da rede conceptual apresentada. Para tal, se vale do aporte metodológico da Linguística de Corpus, estabelecendo a coleta de dois tipos de corpora: corpus de apoio e corpus de estudo. O primeiro corpus é composto pelas literaturas referentes à história das Paraolimpíadas, ao movimento de pessoas com deficiência, a documentos oficiais e vídeos, sendo mantidos em dois subcorpora separados. Em primeiro lugar, essas informações são analisadas, obtendo-se a compreensão dos dois contextos, da relação entre eles, e de como a(s) concepções de atleta foram sendo construídas com o passar do tempo. Baseado nisso, são criados dois mapas conceituais que organizam essas informações relativas aos contextos da paraolimpíada e da pessoa com deficiência. A partir dos mapas, são identificados os frames e elaborada uma glosa para cada frame. As relações entre os frames são visualizadas através de um Frame Grapher, criado com base na FrameNet ([2013]). Na sequência, é examinado o segundo corpus, constituído de textos jornalísticos do período dos Jogos Paraolímpicos de 2016. Com o uso da ferramenta Sketch Engine, é feita uma análise do léxico do contexto paraolímpico, para confirmação da rede de conceptualizações apresentada na etapa anterior e identificação de novos possíveis frames. A partir disso, a rede de conceptualizações relacionadas ao frame atleta paraolímpico é atualizada e glosas dos novos frames são elaboradas. A análise e discussão dos dados se deu a partir das informações obtidas por meio dos materiais de análise e teve como finalidade confirmar as conceptualizações relacionadas ao frame atleta paraolímpico. Os resultados da pesquisa evidenciaram que, no contexto paraolímpico, há uma concepção particular de atleta que se aproxima da concepção de atleta olímpico. Mas, por outro lado, há resquícios de frames da pessoa com deficiência na sua conceptualização por parte da sociedade. A análise evidenciou um uso considerável de palavras e expressões cujo uso é desencorajado pelo movimento de pessoas com deficiência, de forma que, para o dicionário paraolímpico, a metodologia de corpus adotada terá de ser repensada.