Abstract:
A investigação ora aventada versa sobre a possibilidade de se retraçar a Filosofia para suas práticas originárias, que visavam não apenas o desenvolvimento teórico, mas o processo dialético existencial, que se mostrava na vida prática de cada filósofo, promovendo a Filosofia como um modo de vida. Assim, a presente tese tem como objetivo principal explicitar o conceito de experiência a partir de seu radical grego, μετοίκησις [metoíkēsis], cujo significado primário é mudança da morada [do ser]. Ao traçar elementos da experiência filosófica que alia discurso filosófico ao modo de vida filosófico, inicia-se uma investigação de prenúncios da referida metodologia filosófica em três diálogos de Platão, passando pela recondução do conceito na fenomenologia do idealismo hegeliano e, por fim, culminando na proposta contemporânea da Escola de Kyoto, que, ao nosso ver, é representante contemporânea dessa vertente. O primeiro capítulo aborda a filosofia a partir da noção metafórica de experiência de morte, com base nos diálogos platônicos Apologia, Críton e Fédon. A relevância de reinterpretar e retraduzir esses textos está na possibilidade de renovar a compreensão destes, seja pela metodologia utilizada ou pela instauração de um novo paradigma hermenêutico, de modo que seja possível evitar alguns paradigmas interpretativos que se atêm aos subtítulos latinos dos diálogos platônicos. O segundo capítulo, por sua vez, propõe uma ponte conceitual do conceito grego supracitado ao conceito de Erfahrung conforme aparece na Fenomenologia do Espírito de Hegel. A proposta aqui advogada é que o que se compreende como experiência da consciência descrita no projeto da fenomenologia hegeliana pode ser compreendido como um exercício dialético do sujeito que busca transformar seu modo de ser-no-mundo, tal como na proposta grega recém-referida. Além do texto de Hegel, há seções de comentadores de primeira instância de Hegel, especialmente Heidegger e Gadamer, que corroboram nossa defesa interpretativa. O terceiro capítulo aborda o conceito de μετανοεῖν [metanoeîn], retomado pela tradição da Escola de Kyoto sob a perspectiva da experiência filosófica, em que propomos relação direta com a perspectiva desenvolvida nos capítulos anteriores. Aqui, mostramos como Kitarō Nishida e Hajime Tanabe destacam-se enquanto especialistas na fenomenologia de Hegel e na ontologia heideggeriana, das quais unem conceitos do budismo japonês e propõem uma forma de filosofia como forma de vida, ressaltando o fim da filosofia como algo que requer o comprometimento existencial e a autoimplicação do filósofo.