Resumo:
A tese analisa a história e trajetória de vida de duas lideranças Krikati, levando em consideração as implicações da escola não indígena na sua formação. A pesquisa é perpassada pela compreensão de que a organização social, política, cultural, econômica e linguística de cada povo indígena é dinâmica, sendo, portanto, a apropriação de conhecimentos e valores de outras culturas parte das relações humanas e da própria história do contato. Nesse sentido, defendemos que no processo de formação das lideranças indígenas krikati as escolas não indígenas contribuíram em suas trajetórias e histórias de vida sem diluir a sua cultura e identidade indígena. A investigação apontou que as diferenças socioculturais nas escolas se configuram como elementos fundamentais para as relações sociais e um caminho que se abre para a construção de um currículo intercultural, embora ainda prevaleça a dificuldade de ele ser reconhecido e institucionalizado nas práticas pedagógicas das escolas. Buscou-se entender o contexto social e político – 1980 a 1990 – em que, pela primeira vez na história brasileira, é garantido constitucionalmente o direito à educação escolar aos povos indígenas, fortalecimento as práticas socioculturais, o respeito às línguas maternas e aos seus processos próprios de aprendizagens. A pesquisa foi desenvolvida a partir das histórias de vida de Silvia Cristina Puxcwyj e Krikati e Lourenço Borges Milhomem Acỳxit Krikati e, particularmente, de suas trajetórias em escolas não indígenas na região do Oeste do Maranhão. A determinação desses para se apropriarem de conhecimentos ocidentais, vem contribuindo para o fortalecimento de suas lideranças e, em consequência, para a realização de projetos no Território Indígena Krikati, especialmente na educação, saúde, meio ambiente e, sobretudo, na participação em movimentos e organizações indígenas. Assim sendo, abrigamos neste trabalho a base teórico-metodológica da história do tempo presente e da história com fontes orais. No tempo presente tivemos a oportunidade de analisar as singularidades de cada sujeito como testemunhos vivos de suas próprias histórias de vida. Quanto à metodologia da história oral, não nos preocupamos com verdades absolutas, mas, com as experiências vividas pelas fontes, bem como pelos interlocutores. Portanto, a pesquisa revelou que independentemente de onde se localizam geograficamente e do currículo que dispõe nas escolas, elas contribuíram na formação das lideranças krikati, pois proporcionaram a aquisição do domínio dos códigos básicos estruturantes da sociedade não indígena, em especial, o da língua portuguesa, bem como os conhecimentos úteis e necessários para a melhoria das condições de vida tanto individualmente quanto de suas comunidades.