Abstract:
Por meio desta tese serão apresentados os resultados de esforços empregados no intuito de elaborar um quadro interpretativo para o processo de ocupação pré-colonial empreendido pelas populações Jê Meridionais no planalto de Santa Catarina. A construção do argumento foi subsidiada por dados arqueológicos, obtidos nos sítios de estruturas subterrâneas localizados no município de São José do Cerrito, e por estudos paleoambientais realizados no mesmo município, especificamente para o desenvolvimento deste trabalho. Esta pesquisa está inserida em um projeto guarda-chuvas executado pela equipe do Instituto Anchietano de Pesquisas, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, cujo início remonta ao ano de 2008 e teve sua última etapa de campo em 2017. Os dados arqueológicos manipulados nessa tese provêm de 12 sítios arqueológicos escavados no âmbito deste projeto, e compõem uma importante base de dados acerca da cultura material que caracteriza os sítios arqueológicos com estruturas subterrâneas dos Campos de Lages. A partir desses dados foi possível estabelecer quatro padrões de assentamento para os sítios de São José do Cerrito que, conforme demonstram os dados cronológicos obtidos nos sítios, representam três diferentes momentos do processo de ocupação Jê Meridional nessa porção do planalto catarinense: um primeiro momento, situado no primeiro milênio antes de Cristo, e que é marcado pelos assentamentos sem estruturas subterrâneas; o segundo momento, cronologicamente situado entre os séculos VI e X da era Cristã, e que é caracterizado pelos grandes aglomerados de pequenas casas subterrâneas e pelas grandes áreas de fogo localizadas imediatas às depressões; e o terceiro momento, que se estende do século XI ao XVII e, que, no início, é representado pelas grandes estruturas subterrâneas, seus respectivos aterros-plataforma e a ocorrência de pequenas vasilhas cerâmicas; mas, em sua parte final, registra a retomada das estruturas subterrâneas com diâmetros inferiores a 10 metros e a introdução da grandes vasilhas cerâmicas e seu uso como mobiliário doméstico. Os dados paleoambientais, por sua vez, demonstram que ao longo do processo de ocupação empreendido por essas populações, o ambiente não sofre significativas modificações, e que a paisagem seria composta predominantemente por campos abertos com butiazeiros, entremeados por malhas de floresta com araucária.