Abstract:
Este estudo investiga as práticas cotidianas e analisa as representações sobre a cultura escolar de um Internato evangélico entre os anos de 1950 e 1966. Tem como objeto de estudo a Escola Normal Evangélica (ENE), localizada neste período na cidade de São Leopoldo/RS. A Escola Normal deu continuidade às atividades iniciadas pelo Seminário Evangélico de Formação de Professores fundado no ano de 1909, na cidade de Taquari/RS. Após mudanças de região, a instituição chegou à cidade de São Leopoldo no ano de 1926, permanecendo até o ano de 1966, quando se transferiu para a cidade de Ivoti/RS – localidade onde se encontra em funcionamento atualmente. Devido ao período de nacionalização, o Seminário encerrou suas atividades no ano de 1939, reiniciando-as somente em 1950, sob o nome de Escola Normal Evangélica. Desta forma, o recorte temporal desta investigação recai sobre seu período de reabertura, na cidade de São Leopoldo, até o ano de sua transferência. O estudo encontra-se no campo da História da Educação e tem, como referencial teórico, a História Cultural. Seu objetivo é identificar, descrever e analisar as representações acerca da cultura escolar estabelecida nessa instituição, por meio da memória de alunos que estudaram nessa escola no período estabelecido como recorte temporal. Para isso, utilizou-se a metodologia da História Oral, que entende a memória como documento. A documentação para análise compreendeu basicamente as narrativas de memórias dos seis alunos entrevistados. Juntou-se à empiria, também, algumas edições do periódico estudantil “O Arauto” e documentos iconográficos cedidos pelos entrevistados. As narrativas foram analisadas com base nos estudos de Maurice Halbwachs, Roger Chartier, Michel de Certeau e Michel Foucault. Foi possível compreender que as representações que se fizeram presentes nas memórias desses seis sujeitos recompõem o tempo e o espaço do Internato como uma casa e uma grande família. Foi, segundo eles, um período de estudo e aprendizagem, formando vínculos entre colegas e professores, em uma relação de fraternidade e coleguismo. As práticas rememoradas salientaram atividades que envolviam a mente, o corpo, a arte e a fé. O esporte, a música e as meditações diárias foram práticas também destacadas. As voltas na Praça do Imigrante, as saídas ao cinema e a representação de uma liberdade vigiada foram também identificadas nas rememorações. Além disso, foi possível observar as diferentes táticas elaboradas pelos alunos como uma forma de resistência à norma estabelecida. Tais representações abarcam, assim, a cultura escolar gerada nessa instituição de ensino.