Resumo:
O uso de Medicamentos Potencialmente Inapropriados (MPIs) em idosos pode comprometer a efetividade ou a segurança da farmacoterapia e têm se destacado como importante desafio para saúde pública, visto que está associado a elevados índices de morbidade e mortalidade. Pesquisas nacionais que investigaram esse tema revelam que as prevalências de uso de MPIs variam de 28,0% a 82,6%; contudo, esses estudos utilizaram listas de MPIs validadas na América do Norte e Europa, uma vez que o primeiro consenso brasileiro sobre MPIs foi publicado somente no final de 2016. Segundo os autores, a lista desenvolvida apresenta algumas lacunas no conhecimento, uma vez que foi baseada em critérios publicados até 2012 e, portanto, não inclui as versões mais atualizadas publicadas em 2015, bem como não incorpora possíveis alternativas terapêuticas para os medicamentos que compõem a lista. Dessa forma, este estudo teve como objetivo estabelecer critérios explícitos para avaliação de MPIs prescritos aos idosos no Brasil e suas respetivas alternativas terapêuticas. O projeto englobou duas etapas complementares: 1- Elaboração da lista de critérios explícitos para avaliação de medicamentos inapropriados para idosos a partir de revisão sistemática já realizada; 2- Validação da proposta por consenso de especialistas utilizando técnica Delphi; A primeira etapa, elaboração da lista preliminar de MPIs, foi baseada em um estudo de revisão sistemática das listas publicadas entre janeiro/1991 e abril/2017.Realizou-se também uma análise qualitativa das listas com o objetivo de verificar a aplicabilidade destas ao mercado brasileiro em termos de disponibilidade e frequência de prescrição. Dessa forma, selecionaram-se três listas de MPIs: Beers 2015, STOPP 2015, European Union (7) PIM list. Ao final desse processo, obteve-se 153 critérios distribuídos em sete instrumentos: Dor e Inflamação, Sistema Cardiovascular, Sistema Endócrino, Geniturinário, Sistema Respiratório, Sistema Nervoso Central, sendo os dois primeiros já validados por meio da técnica Delphi modificada. Considerou-se validados os itens para os quais o limite inferior do IC 95% foi superior ou igual a 4,0. O consenso sobre MPIs - Dor e inflamação foi constituído duas rodadas. Um grupo de nove especialistas atingiu consenso sobre 98 (63,2%) das 155 questões apresentadas: 31/34 preocupações independente do diagnóstico, 4/4 preocupações quanto à dose, 4/4 preocupações quanto a duração do tratamento, 19/20 preocupações quanto ao uso em condições específicas, 12/23 considerações especiais de uso e 28/68 alternativas terapêuticas. No consenso sobre MPIs -Sistema Cardiovascular, um grupo de sete especialista atingiu consenso sobre 84 das 257 questões apresentadas: 20/25 preocupações independente do diagnóstico, 4/4 preocupações quanto à dose, 37/57 preocupações quanto ao uso em condições específicas, 20/105 considerações especiais de uso e 3/66 alternativas terapêuticas. Embora a validação de listas de MPIs a partir da opinião de especialistas seja um processo complexo, a listas desenvolvidas poderão ampliar o conhecimento sobre MPIs no país, uma vez que são baseadas em consensos recentes. Desse modo, esta pesquisa possibilitará um melhor entendimento da magnitude do uso de MPIs no Brasil, e poderá contribuir para o desenvolvimento de estratégias e intervenções mais eficazes para a redução dos problemas relacionados ao uso de medicamentos em idosos no país.