Resumo:
A pesquisa procura compreender de que maneira o jornalismo, quando lida com a temática do futebol, aborda a complexidade de relações que vão além dos gramados. Para tanto, analiso a prática jornalística da imprensa esportiva na construção de suas narrativas sobre a participação do Pérolas Negras na Copa São Paulo de 2016. O trabalho está estruturado metodologicamente em cinco movimentos, sendo quatro movimentos de aproximação do problema de pesquisa e um movimento de análise do corpus, composto por doze matérias de sites variados. O paradigma da complexidade de Edgar Morin (1984, 2010, 2015), que foi transposto para o jornalismo por Mar de Fontcuberta (2006) serve como fio-condutor de sua construção. Acredito que em função do futebol se constituir em um fenômeno social e cultural de grande complexidade, deve ser trabalhado tanto pelo pesquisador quanto pelo jornalista de maneira multidimensional. Só assim é possível dar conta dos inúmeros aspectos a ele relacionados. Nos movimentos teóricos busco verificar o papel da imprensa esportiva na construção, reprodução e circulação das produções simbólicas ligadas ao futebol na sociedade brasileira. Reflito sobre a profissão de jogador de futebol no mundo globalizado e os fluxos migratórios da contemporaneidade, bem como em relação à maneira como a imprensa esportiva ajuda a construir uma idealização do futebol como um importante instrumento de ascensão social. Esse último aspecto, aliás, ficou nítida na análise do corpus, que também permitiu constatar a reprodução de uma série de estereótipos e lugares comuns em relação ao Haiti e aos haitianos, com uma forte tendência à vitimização e à reprodução do senso comum em relação ao país caribenho e seus habitantes, contribuindopara reforçar a estigmatização desses sujeitos. Dentro da perspectiva aqui adotada, é possível afirmar que a quase totalidade dos textos apenas reproduziram o olhar hegemônico e passaram longe da abordagem complexa que o jornalismo deveria adotar nas suas produções.