Resumen:
A partir da disponibilização dos jornais de maior circulação do Brasil na Internet, e suas posteriores reconfigurações no espaço virtual, percebemos que os blogs de fotografia de O Globo (FotoGlobo), O Estado de S. Paulo (Olhar sobre o Mundo), Zero Hora (FocoBlog), Diário Gaúcho (Diário da Foto) e Correio do Povo (FotoCorreio) despontam como lugares de comentário das práticas fotojornalísticas. Os fotojornalistas, ao postarem nesses blogs, acabam repetidas vezes, realizando monitoramentos das rotinas profissionais e mobilizando saberes mútuos e compartilhados entre seus pares; ora tentando extrair-lhes regras, ora deixando-se levar por elas. Para Foucault (1986, p.136), todas as práticas são discursivas e deixam transparecer um conjunto de regras anônimas e históricas capazes de condicionar as ações dos sujeitos ao mesmo tempo em que são recriadas por eles, num movimento contínuo de autorreflexão e monitoramento reflexivo dos diferentes atores sociais. Podemos dizer, portanto, que há um saber contido nestes blogs, que não se encontra em estado bruto, mas que se anuncia por meio de reflexões acerca do fazer fotojornalístico e que se mostra específico e localizado, praticado por fotógrafos atuantes na imprensa, principalmente a diária. Este material nos oportuniza acessar à atividade para tentar entendê-la, funcionando como um dispositivo de revelação do saber fotojornalístico, bem como nos possibilita perceber como os próprios repórteres fotográficos pensam ser suas rotinas, as mudanças na profissão e seu papel social na atualidade. É, portanto, a partir da recorrência produtiva e discursiva dos fotógrafos nas postagens destes blogs que chegaríamos a um primeiro entendimento sobre que profissão é essa, qual a sua especificidade e quais as transformações sofridas ao longo do tempo. Isso, contudo, somado a outros movimentos de pesquisa, como a aplicação de enquetes e a realização de entrevistas, além do acompanhamento das rotinas produtivas na redação de dois dos principais jornais do Rio Grande do Sul. Este conjunto de enunciados nos ajudou a tencionar o próprio espaço dos blogs como lugar de reflexão das práticas, observando as mudanças na utilização da plataforma e seu ciclo de vida na web de 2009 a 2015. Um espaço que se diferencia tanto dos manuais e dos livros de fotografia no que se refere à discussão da práxis, quanto dos próprios jornais aos quais estão ligados ao serem percebidos pelos fotógrafos como lugares livres da tirania cronoespacial, temática e estética dos impressos, tornando-se sítios heterotópicos capazes de suportar narrativas poéticas. É justamente nesta aparente lacuna bibliográfica, portanto, que se insere a proposta de investigação “Heterotopias fotojornalisticas: os blogs de fotografia dos jornais impressos de maior circulação do Brasil como espaços de produção e reflexão do saber e das práticas fotojornalísticas na contemporaneidade”. Ao fim e ao cabo, com ela pretendemos, sobremaneira, entender como os próprios fotojornalistas que compõem o quadro desses jornais discutem o exercício da profissão dentro do espaço dos blogs de fotografia aos quais estão ligados institucionalmente, produzindo um discurso de si e da atividade, e como isso reverbera nas bases disciplinares do campo fotojornalístico até hoje.