Abstract:
O Movimento, que no Brasil foi chamado de Bandeirante, surgiu em 1909, na Inglaterra, organizado pelo militar Robert Baden-Powell, denominado originalmente de Girls Guides que, como o nome indica, congregava meninas, enquanto seu correlato, o Movimento Escoteiro, atendia aos meninos. Em 1919, o Bandeirantismo chegou ao Brasil, introduzido por pessoas da elite carioca que o haviam conhecido na Europa. As atividades se voltavam à formação de meninas e moças que deveriam desempenhar os papéis de gênero próprios do período. Em suas primeiras décadas, o Movimento expandiu-se pelo país, contando com forte apoio do Estado e da Igreja Católica. De cunho conservador, o Movimento Bandeirante não havia passado por reformulações mais profundas até a década de 1960, quando o decréscimo do efetivo sinalizou para a necessidade de mudanças. A dissertação objetivou analisar a reestruturação do Movimento Bandeirante no período de 1967 e 1968, observando as tensões, contradições e os possíveis limitadores à inovação no interior do Movimento. A base empírica do estudo constituiu-se no relatório de reformulação da Federação de Bandeirantes do Brasil, o qual procurava apontar os problemas enfrentados bem como sugerir reformulações que permitissem a superação de possíveis anacronismos. Também foi consultada a revista Bandeirantes, cuja leitura, ao longo da década de 1960, permitiu cotejar distintas opiniões, tanto das diretorias quanto de participantes de diferentes níveis hierárquicos, sobre os rumos e os problemas enfrentados pelo Movimento. Finalmente, foram consultadas as atas das reuniões nacionais, nas quais se discutiam as concepções e ações do Bandeirantismo no país, especialmente após este de ter se tornado oficialmente misto, em 1968. As categorias analíticas que embasaram a leitura desses documentos foram: conservadorismo, definido a partir da leitura de Norberto Bobbio; gênero, com base nas discussões de Joan Scott; feminismo liberal, a partir dos estudos de Celi Pinto e coeducação, com base nas discussões de Aldenise Santos e Dinamara Feldens. Como resultados, apresentam-se as principais contradições, presentes no interior do Movimento, que impediram inovações mais profundas e mantiveram uma cultura institucional predominantemente conservadora, ainda que permeada por discursos e práticas que, por vezes, poderiam ser consideradas progressistas.