Resumen:
Essa pesquisa busca relacionar gênero e comunicação a partir da perspectiva de performances feministas sustentadas pelo uso do corpo nu da mulher em ações de ativismo social, vinculadas ou geradas no ambiente da internet e que propõem uma discussão centrada na violência contra a mulher. O trabalho parte do entendimento de que o uso do corpo nessas ações de ativismo ou mobilização social geram fluxos comunicacionais diferenciados e, sendo assim, constroem diferentes sentidos que refletem e são refletidos nos processos culturais da sociedade. Dessa forma, a pesquisa busca, por meio de uma experiência cartográfica, mapear ações com o uso do corpo nu da mulher por movimentos ou ativistas feministas e que encontraram na internet o espaço de expansão e disseminação dessas ações, desvelando os sentidos que emergem dessas performances. O objeto aqui é entendido como objeto/processo, uma vez que as ações têm múltiplas matizes, intensidades e relevos, sendo algo em constante movimento. Para compor a metodologia, além da cartografia, foi utilizada a realização de grupos focais, que permitiram uma percepção mais acurada do objeto/processo em suas dimensões online e offline. Os mapas teóricos contemplaram, principalmente, os estudos de gênero a partir da ótica pós estruturalista (Butler, Scott, Louro) e a comunicação desde a perspectiva dos estudos culturais, com o desafio de pensar também a partir das materialidades da comunicação (Gumbrecht), passando por discussões sobre corpo e performance. Além disso, uma abordagem sobre os movimentos feministas e o contexto atual da mulher na sociedade compõem o estudo. Os resultados apontam para três principais vertentes de sentidos construídos, que são atravessados constantemente por questões relacionadas às mulheres e pautas históricas do movimento feminista: 1) o choque com a perfomance ou com a nudez “fora de contexto”; 2) a discussão sobre o que é próprio da mulher (lugar de mulher é) e 3) a efetiva mobilização social para a causa (meu corpo, minhas regras!). É possível afirmar que o ativismo enxerga nessas ações uma forma de deslocar ou questionar o uso da nudez feminina na publicidade e no consumo, atrair a atenção para a pauta da violência contra a mulher e reforçar as afirmações sobre a mulher como dona do próprio corpo. Alem disso, contribui para questionar as questões culturais marcadas pelo machismo e pela herança patriarcal. Por outro lado, alguns sentidos construídos apontam para a manutenção da cultura existente e dos discursos centrados nas normas e padrões estabelecidos para homens e mulheres.