Abstract:
A presente tese analisa traduções do português para a Libras de provas de vestibular da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) na edição de 2012. Por meio dessa análise, pretende-se responder à seguinte questão: como traduções da língua portuguesa escrita para a Libras em prova de vestibular são realizadas com o objetivo de garantir aos surdos, por meio da Libras, o acesso às informações necessárias e suficientes em relação aos conhecimentos exigidos na referida prova? O objetivo principal do estudo é, portanto, analisar elementos que, no processo de tradução, evidenciam aspectos que precisam tomar a cultura surda como central para que os textos em Libras possibilitem aos surdos a compreensão das questões apresentadas originalmente na língua portuguesa escrita. As ponderações conceituais versam sobre os estudos da Tradução (VASCONCELLOS e PAGANO, 2004; VASCONCELLOS, 2008; VASCONCELLOS e BARTHOLAMEI, 2008), mais especificamente no campo dos Estudos da Tradução da Libras e da Língua Portuguesa (VASCONCELLOS, 2010; VASCONCELLOS, QUADROS, SANTOS e PEREIRA, 2012; SANTOS, 2013). Neste viés, vem à tona a visão sócio-antropológica da surdez (SKLIAR, 1998), o trabalho dos tradutores envolvidos na realização das traduções, aspectos específicos da tradução em si, bem como questões visuais implicadas na apresentação dessas provas (QUADROS, STUMPF e OLIVEIRA, 2011; QUADROS, SOUSA e VARGAS, 2012). Tais aspectos são verificados no trabalho de tradução de questões da prova de Língua Portuguesa e de Redação daquela edição do vestibular, no ano de 2012. Apresentam-se as questões da prova, uma descrição do trabalho dos tradutores e algumas implicações desse processo, considerando o fato de que os surdos teriam acesso às informações da prova em Libras, mas as respostas deveriam ser dadas por meio da língua portuguesa escrita. Como resultados da análise, entre as discussões referentes aos impasses na seleção de estratégias e de definições decorrentes do processo tradutório, destaca-se que as provas de vestibular são um locus privilegiado para a verificação da qualidade da acessibilidade oferecida às pessoas surdas, uma vez que expõem os conflitos culturais e linguísticos que ainda carecem de investigações e melhorias.