Resumen:
Este trabalho se propõe a reconstituir e discutir o processo de construção do(s) estereótipo(s) dos piratas em obras literárias de ficção que foram escritas no século seguinte ao auge e ao posterior desaparecimento das atividades de pirataria nos mares do Caribe. Para tanto, reconstituímos esse processo gradual de desaparecimento, a partir da contextualização da situação política e econômica do século XVIII, principalmente das três primeiras décadas, que se caracterizaram por uma série de mudanças, sobretudo no comércio ultramarino, estabelecidas pelo Tratado de Utrecht, em decorrência da Guerra da Sucessão Espanhola. A discussão que realizamos partiu da obra A General History of the Pyrates, de Daniel Defoe, que consideramos o ponto inaugural da construção destes estereótipos, por apresentar dezenove biografias de piratas que conquistaram fama nas primeiras décadas do século XVIII. A narrativa de Defoe, marcada por traços de jornalismo sensacionalista, acabou por enaltecer as características desses piratas junto ao público leitor, provocando, assim, um efeito contrário ao pretendido pelo autor e, principalmente, pela Coroa inglesa, empenhada em difamar ao máximo a imagem dos piratas para facilitar seu processo de eliminação, que já vinha sendo realizado pela Marinha Real Britânica (Royal Navy). As obras literárias que selecionamos para cotejo e análise foram O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas, A Ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson, Contos de Piratas, de Arthur Conan Doyle e O Garoto no Convés de John Boyne. Nelas, pudemos constatar, em maior ou menor grau, tanto apropriações das descrições feitas por Daniel Defoe, evidenciadas na caracterização que seus autores fazem de alguns personagens, quanto a criação de novas características (físicas e comportamentais), que contribuíram, desta forma, para encorpar, difundir e perpetuar o estereótipo dos piratas caribenhos do século XVIII.