Resumo:
Esta tese se dedica às tensões geradas sobre as práticas jornalísticas por novas formas de intervenção social cujo protagonismo é exercido pelos chamados movimentos de ocupação global, com as redes sociais digitais como espaço de metabolização. No esteio da Teoria Geral dos Signos, de C.S. Peirce, defende-se que, na linguagem, materializa-se a principal função do jornalismo: exercer uma mediação qualificada no espaço público entre a realidade caótica dos acontecimentos e a sociedade, fruto da formação como campo social, acadêmico e profissional. A produção noticiosa é entendida, assim, como um complexo emaranhado de mediações que resulta na semiose da notícia, graficamente expressa no esquema objeto/acontecimento – mente interpretante/jornalismo – signo/notícia. Decorre dessa perspectiva a ideia de que o jornalismo, na condição de sistema de produção de sentido, esteja enfrentando uma crise de natureza sistêmica, provocada pela interação com outros agentes que compõem o espaço não físico que Lotman concebe como semiosfera. Aquilo que o jornalismo não representa no signo/notícia que produz por uma semiose tradicionalmente cerceadora do poder hermenêutico do acontecimento, em Quéré, agora é significado por outros sistemas e amplamente compartilhado nas redes digitais, pondo em xeque o lugar de mediação que o jornalismo firmou ao longo da história. A reflexão tem lastro em inferências oriundas de movimentos etnográficos empreendidos nas redações de três jornais de referência: Folha de S. Paulo (Brasil); The New York Times (EUA); El País (Espanha). Alia-se a essa experiência o acompanhamento de fenômenos como o Occupy Wall Street, nos Estados Unidos, e as Jornadas de Junho, no Brasil, numa tentativa de desvendar suas formas de articulação, mobilização e intervenção. Vislumbra-se na interface entre jornalismo e movimentos de ocupação global, pela disputa de sentidos em torno dos acontecimentos que se concretiza nas redes digitais, a proposição do conceito de interpretante em rede. Advoga-se, enfim, a necessidade de uma autorreflexão do jornalismo ante a crise, ao ocupar o lugar lógico e transitório do interpretante na semiose da notícia, que redundaria em formas mais complexas de representação dos conflitos sociais como objeto semiótico. Aos movimentos sociais, pois, caberia a compreensão da constituição do interpretante em rede de modo a traçar estratégias de promoção do debate acerca de suas demandas.