Resumo:
Esta dissertação analisa a obra escrita pelo médico brasileiro Francisco de Mello Franco, intitulada Medicina Teológica ou súplica humilde feita a todos os Senhores Confessores, e Diretores, sobre o modo de proceder com seus Penitentes na emenda dos pecados, principalmente da Lascivia, Colera e Bebedice, de 1794, detendo-se, especialmente, nos capítulos que tratam das doenças do ânimo e das terapêuticas e fármacos recomendados para a obtenção de sua cura. Iniciamos com a apresentação da trajetória de Mello Franco, inserindo-a, primeiramente, no contexto de transformações que Portugal vivenciou na segunda metade do século XVIII, em decorrência da Ilustração. E posteriormente em um cenário marcado pela revisão ou contestação às reformas introduzidas pelo Marquês de Pombal. Para a compreensão das influências acadêmicas sofridas por Mello Franco, analisamos os documentos da Universidade de Coimbra produzidos à época da Reforma de 1772 e, também, o catálogo do seu acervo particular de livros, que permite uma reflexão acerca das leituras e apropriações que, provavelmente, fez. Destacamos, ainda, sua condenação à prisão pelo Santo Ofício, no ano de 1781, vinculando-a à opção pelo anonimato na publicação da Medicina Teológica, já que a obra, além de ter sido dedicada aos confessores, propunha a substituição destes religiosos pelos médicos no tratamento das doenças da alma. Dedicamos dois capítulos da dissertação à análise das doenças do ânimo - cólera, melancolia, bebedice, erotomania, satyriazes e ninfomania - e, para tanto, inspirados em obras referenciais da História da Medicina e da História da Saúde e das Doenças, dialogamos tanto com a produção historiográfica sobre o tema, quanto com tratados de Medicina do ânimo, receituários e dicionários setecentistas, bem como com catálogos de plantas medicinais contemporâneos. A análise desta categoria de enfermidades - associadas à conduta moral dos penitentes que buscavam os confessores - e, sobretudo, dos receituários que encontramos na obra de Mello Franco constitui-se em abordagem original, ainda não contemplada pelos historiadores que se debruçaram sobre a Medicina Teológica.