Resumo:
A pesquisa em psicoterapia tem ampliado o estudo do abandono terapêutico através da exploração das variáveis do processo, incluindo variáveis do paciente, do terapeuta e da interação. Poucos estudos direcionam suas investigações para a adolescência, principalmente, para a descrição dos processos e dos resultados terapêuticos. Contudo, a adaptação de instrumentos que consideram as peculiaridades da adolescência é uma área importante a ser investida. Nesse sentido, esta dissertação de mestrado teve como principal objetivo avaliar o processo psicoterápico de uma adolescente em que o desfecho clínico foi o abandono. Para tal, as sessões foram codificadas com um instrumento da metodologia Q-sort adaptado para adolescência. O Adolescent Psychotherapy Q-Set (APQ) visa avaliar sessões de psicoterapia através de 100 itens que descrevem o terapeuta, as atitudes e os comportamentos do paciente, bem como as interações terapeuta/paciente. Foram selecionados para descrever o processo os itens mais e menos característicos da psicoterapia. Essa consistiu de duas etapas de tratamento: 12 sessões e um abandono, retorno após 2 meses de afastamento e 8 sessões que culminaram em mais um abandono. Através de análises e narrativas descritivas das sessões, foram analisadas as variáveis da paciente, da terapeuta e da interação, buscando-se explorar o fenômeno do abandono nesta psicoterapia. Os resultados obtidos evidenciam critérios significativos a uma psicoterapia em que tanto paciente quanto terapeuta apresentaram características e posturas preditoras de uma boa aderência psicoterápica. Porém, frente ao abandono como desfecho clínico deste processo, esta dissertação aponta que a impossibilidade de aquisição de insight da paciente e a ausência de intervenções da terapeuta que visassem explorar manifestações referentes a faltas, interrupções ou pausas contribuíram para tal resultado.