Abstract:
Esta pesquisa teve como objetivo principal compreender o processo de construção de professores iniciantes na docência universitária, em tempos de expansão e interiorização da rede pública ocorrida no Brasil, na primeira década do século XXI. Tomou como lócus a Universidade Federal do Amazonas, mais especificamente, para os dados empíricos, o Campus de Humaitá. Na perspectiva para essa compreensão foi desenvolvida uma investigação qualitativa, ouvindo, através de narrativas, quatro docentes de áreas distintas, que atenderam aos critérios definidos pelo estudo, na condição de iniciantes na carreira universitária, com não mais de cinco anos de experiência nesse nível de ensino. Essa escolha possibilitou melhor configurar a abrangência do objeto de estudo. Para a interpretação dos dados foram utilizados os princípios da Análise de Conteúdo. Os aportes teóricos tiveram como base principal os estudos de Cunha; Pimenta e Anastasiou; Veiga; Nóvoa; Marcelo Garcia; Vaillant; Mayor Ruiz; Larrosa e Lucarelli, entre outras contribuições que fundamentaram os temas centrais. Na perspectiva de alcançar o objetivo proposto, algumas questões foram norteadoras, em especial as relacionadas aos percursos de formação dos professores; estímulos que tiveram para a escolha profissional e influências de sua condição de estudantes, a partir das aprendizagens feitas com seus ex-professores, bem como compreender o impacto da formação acadêmica na sua profissionalidade. Procuramos, também, desvendar se receberam apoio institucional para essa fase de inserção e que importância atribuem a um possível movimento nessa direção. Ampliando ainda mais os estudos, provocamos as narrativas sobre as principais experiências que marcaram a trajetória inicial da docência e o que significaram para as suas práticas cotidianas. Interessou, também, ao estudo, compreender o valor que atribuem à didática universitária e como as estratégias de formação e de desenvolvimento profissional podem ser mobilizadas para fortalecer a docência. Os resultados evidenciaram que as expressões ―choque com a realidade‖; ―solidão pedagógica‖; ―aterrissa como podes‖; ―nada ou afunda-te‖ são capazes de caracterizar o vivido pelos professores nos seus anos iniciais na Universidade, pois não encontraram acolhimento de forma sistematizada, com apoio institucional. Assistematicamente, tiveram auxílios de colegas e aprenderam principalmente na prática, com seus alunos, através do ensaio e do erro. Entretanto, a condição de iniciantes não os impediu de assumirem funções burocrático-administrativas entendidas, por eles, como promotoras de amadurecimento profissional. O dinamismo, a reflexão sobre as práticas e o compromisso com a formação dos estudantes estiveram presentes nas narrativas dos docentes, evidenciando que se seu processo de construção se alicerça, principalmente, nos modelos e nos contramodelos trazidas das suas trajetórias acadêmicas. Trata-se de um saber cultural que parece responder aos desafios que enfrentam, mas sem uma base teórica que fortaleça a necessária profissionalidade. Na dinamicidade da prática docente, os professores estão se construindo de forma singular, se refazendo e configurando uma identidade própria de ser professor. Entretanto, a fragilidade da formação para a docência e a insipiência do apoio institucional no ambiente acadêmico retarda e afeta a construção da profissionalidade, que se situa mais numa responsabilidade individual, do que como parte das políticas públicas que sustentam a expansão da educação superior pública no país.