Resumen:
O presente trabalho tem como objetivo compreender as práticas de mobilização eleitoral e de construção do eleitor nas eleições municipais realizadas em Canoas/RS entre 1947 e 1963. Canoas é um município da região metropolitana de Porto Alegre, emancipado em 1939 e que realizou suas primeiras eleições somente após o Estado Novo. As décadas de 1940 e 1950 registraram um expressivo crescimento populacional, motivado pela migração de trabalhadores do campo para a cidade, fazendo surgir novos bairros – habitados basicamente por famílias de operários. As eleições municipais deste período fazem parte do contexto de incorporação dos trabalhadores urbanos ao cenário eleitoral, de ampliação do corpo eleitoral e de consolidação da experiência democrática brasileira – iniciada em 1945. Necessitando construir uma imagem prestigiosa, partidos e candidatos encontraram um possível canal de comunicação com os eleitores na imprensa local – contando com jornalistas, editores, articulistas e comentaristas mais ou menos identificados com os diferentes grupos políticos. Ao longo das eleições municipais, e seguindo a lógica da disputa regional, formaram-se dois blocos partidários: os trabalhistas, em torno do PTB, PSP e PSB, e um bloco liberal-conservador de contraposição ao trabalhismo, formado por PSD, PRP, PL, UDN e, mais tarde, PDC e MTR. As sucessivas eleições e a mobilização eleitoral tornaram mais nítidas as diferenças entre os dois blocos políticos e produziram identificação no eleitorado com relação a determinados candidatos. Coligações, partidos, candidatos e apoiadores construíram qualificativos sobre suas candidaturas e sobre os adversários, destacando aspectos morais e as competências que, em suas concepções, eram necessárias para o exercício da representação política. Como tais concepções não constituem um fim em si mesmas, a pesquisa avança em direção às práticas dos períodos de campanha eleitoral. As notícias, os artigos e os anúncios publicados na imprensa, bem como o instrumental de mobilização das campanhas eleitorais, são compreendidos não apenas como estratégias de conquista do voto, mas também como práticas que suscitam no eleitor um interesse pela competição eleitoral e estabelecem uma relação entre o voto e a vida cotidiana.