Resumo:
Este trabalho teve como objetivo analisar as apropriações das identidades femininas
por crianças no âmbito da recepção midiática. Participaram da investigação
dezessete crianças, entre nove a treze anos de idade. Na investigação, foram
utilizadas as seguintes técnicas/instrumentos de produção de dados da investigação:
elaboração de desenhos, produção escrita, diário de campo, questionário, seleção
de imagens na internet e rodas de conversa. A abordagem qualitativa, de inspiração
etnográfica, permitiu levar em conta a diversidade das apropriações e sentidos
produzidos pelas crianças acerca das identidades femininas. Os dados produzidos
durante a investigação foram organizados nas seguintes categorias:
mulheres/pessoas celebridades versus pessoas comuns; belas versus não belas
(feias); recatadas, frágeis, delicadas versus salientes, vulgares, exibidas, raparigas,
gostosas; e fortes, trabalhadoras, mães versus profissionais, estilosas, inteligentes.
A compreensão dos mecanismos sociais de construção das identidades femininas e
sua relação com a mídia deu-se em diálogo com autores como Louro (1997, 2007);
Fischer (2001, 2002); García Canclini (2009, 2010); Hall (1997, 2005); Orozco
Gómez (2011, 2012); Martín-Barbero (2009); Silverstone (2002), entre outros. Os
resultados desta investigação apontaram para intensa presença da mídia na vida
das crianças juntamente com a família. Os modelos de mulheres/pessoas de que
elas se aproximaram são brancas, magras, loiras, recatadas, trabalhadoras, gentis,
não salientes, ricas e famosas; e se afastaram das negras, gordas, salientes,
vulgares, gostosas e pobres. Os primeiros são hegemonicamente aceitos e, os
segundos, não hegemônicos, são rechaçados no contexto da sociedade brasileira.
Ao mesmo tempo, as crianças se apropriaram de tais modelos e concepções e os
questionaram, quando confrontados nas rodas de conversa, avançando criticamente
em relação às escolhas que fizeram no processo da investigação. Portanto, as
crianças precisam ser educadas para conviver de forma igual com as diferenças,
criticando e enfrentando quaisquer situações de dominação, exploração e negação
de seus direitos.