Resumo:
O câncer infantil é um conjunto de doenças caracterizadas pela proliferação descontrolada de células anormais. Apesar dos avanços da ciência e da medicina, fazendo com que a taxa de sobrevida chegue em média a 80%, a doença ainda é considerada ameaçadora e os tratamentos são dolorosos e invasivos. Esta experiência pode acarretar consequências psicológicas, dentre elas, o Transtorno de Estresse Pós-traumático (TEPT) ou a presença de sintomatologia do mesmo. Dessa forma, o objetivo dessa dissertação foi investigar a presença de TEPT em jovens sobreviventes de câncer infantil através de dois estudos, um de revisão sistemática e outro empírico. O estudo de revisão sistemática, apresentado na sessão 1, buscou investigar a presença e a prevalência de sintomas de TEPT em sobreviventes de câncer infantil, fatores associados ao transtorno e implicações clínicas. Identificaram-se índices de sintomas de TEPT mais altos nos sobreviventes quando comparados à população em geral. Variáveis como idade, idade no diagnóstico, sintomas de TEPT nos pais e crenças sobre saúde e doença foram associadas ao TEPT. Destacou-se a necessidade de intervenções clínicas específicas para esta população. O estudo empírico, apresentado na sessão 2, foi realizado com 65 adultos e adolescentes, com idade média de 19 anos, que haviam concluído o tratamento há pelo menos um ano em um hospital público de Porto Alegre. O principal objetivo foi investigar a presença de sintomas de estresse pós-traumático e sua relação com a percepção sobre a doença nesses pacientes sobreviventes. Examinou-se também a relação dos sintomas de TEPT com variáveis clínicas e sociodemográficas. Foram aplicados os questionários IPQR-H – Revised Illness Perception Questionaire for Healthy People , para avaliar a percepção sobre a doença, o PCL-C- PTSK Checklist – Civilian Version e SPTSS-Screen for Post -traumatic stress symptoms, para transtorno de estresse pós-traumático e um questionário de dados clínicos e sociodemográficos. Os índices de sintomatologia de TEPT variaram de 9,2% a 18,5% na amostra, não havendo diferenças significativas entre homens e mulheres. Correlações significativas foram encontradas entre sintomas de TEPT e algumas dimensões da percepção sobre a doença. Não foram encontradas associações significativas entre variáveis clínicas e sociodemográficas e sintomas de TEPT. A percepção sobre a doença foi preditora de sintomatologia de TEPT em sobreviventes de câncer infantil. Assim, identificou-se que a percepção sobre a doença deve ser investigada em sobreviventes de câncer infantil para atuar na prevenção e no tratamento de sintomas de TEPT nesses pacientes. Destaca-se a importância do acompanhamento psicológico durante todo o tratamento e após o término do tratamento, durante o período necessário para readaptação desses pacientes a vida social.