Resumen:
As áreas úmidas estão entre os ecossistemas que mais contribuem para a diversidade biológica. Por outro lado, também são considerados os ecossistemas mais ameaçados pela ação humana. As áreas úmidas intermitentes são definidas pelo seu hidroperíodo, caracterizado pelo número de meses em que esses ecossistemas apresentam água superficial durante um ano. O hidroperíodo é um fator importante que influencia as comunidades de invertebrados em áreas úmidas, afetando diretamente as espécies que necessitam completar parte ou todo o seu ciclo de vida na água. Em áreas úmidas intermitentes, espécies de invertebrados aquáticos produzem propágulos dormentes capazes de resistir à dessecação, constituindo uma reserva ecológica e evolutiva fundamental em resposta às condições adversas relacionadas às flutuações no regime hidrológico e de outros fatores ambientais. O objetivo geral desse estudo foi analisar a emergência de invertebrados aquáticos via bancos de propágulos dormentes em sedimentos secos de áreas úmidas intermitentes de altitude no Sul do Brasil, relacionando as respostas da comunidade com diferentes hidroperíodos. Os objetivos específicos foram: 1) Comparar a riqueza, a abundância e a composição de invertebrados aquáticos emergentes de propágulos dormentes entre áreas úmidas que apresentam diferentes hidroperíodos, e 2) Identificar táxons de invertebrados aquáticos emergentes de propágulos dormentes que possam ser utilizados como indicadores de diferentes hidroperíodos de áreas úmidas de altitude no Sul do Brasil. Foram realizadas coletas de sedimento seco em nove áreas úmidas distribuídas em três tratamentos de hidroperíodo (curto, médio e longo) localizadas nos Campos de Cima da Serra do Sul do Brasil, dentro do bioma Mata Atlântica. Em laboratório, o sedimento seco foi hidratado com água destilada e mantido sob temperatura e fotoperíodo controlados. Os invertebrados foram amostrados no dia posterior à hidratação, e semanalmente durante 10 semanas. Um total de 19.868 indivíduos distribuídos em 11 táxons foi encontrado ao longo do experimento. A riqueza, a abundância e a composição de invertebrados aquáticos não variaram entre os diferentes hidroperíodos. Entretanto, Karualona muelleri foi mais abundante nas áreas úmidas com hidroperíodos curto e médio e Kurzia polyspina foi mais abundante nas áreas úmidas com hidroperíodo longo. Os tardígrados foram abundantes em áreas com hidroperíodo médio. Nosso estudo demonstrou que as áreas úmidas de altitude estudadas podem ser facilmente recolonizadas após um período de seca e que as comunidades dormentes de invertebrados aquáticos são fundamentais no processo de sucessão ecológica nesses importantes ecossistemas do Sul do Brasil.